Após três meses, o pequeno Benjamim deixou o hospital e regressou a casa. Durante este percurso, o pai Pedro Chagas Freitas fez questão de partilhar com os seguidores desabafos diários.
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Nesta nova etapa da recuperação do filho, o autor português decidiu colocar um ponto final ao diário e deixou um agradecimento a todos os que o acompanharam na jornada. Ora, veja:
Estivemos em Coimbra de manhã. Voltámos. Está tudo no caminho certo. Teremos, agora, mais alguns dias de reclusão, por casa, até voltarmos ao hospital. O caminho ainda será demorado, ainda terá altos e baixos (espero que não, espero que não). Por esta altura, é tempo de terminar, e só eu sei como estava ansioso por este dia (seria a prova de que estávamos em casa, na normalidade que é tão extraordinária, tão excêntrica), esta espécie de Diário do Hospital que escrevi por aqui. Fi-lo, no começo, por desespero: precisávamos de um dador. Depois, encontrado o dador, fiquei com uma dívida de gratidão que nunca serei capaz de pagar. Foram tantos tantos tantos milhares de pessoas que todos os dias nos contactaram que não poderia deixar de, por aqui, da maneira que podia, entre um exame e outro, entre um sono curto e outro, ir dando conta de como estava o Benjamim a evoluir. Foi, para mim, uma catarse profunda. Encontrei demónios, matei alguns, outros talvez ainda se mantenham vivos, para minha desgraça e medo. Saio deste Diário uma pessoa diferente, espero que para melhor. A quem esteve sempre desse lado, deixo um profundo, eterno, obrigado. Vocês deram uma força que nem imaginam como foi, em alguns dias, decisiva. A vossa energia sentiu-se a cada passo. Sentiu-se mesmo. Não caminhávamos sozinhos. Tínhamos um exército de amor, de empatia, atrás de nós. Pode ser essa a grande lição que eu tiro deste caminho que, espero eu, seja agora mais simples. Ser mais capaz de encontrar em cada uma das nossas fragilidades, das nossas insuficiências, um bom começo para ser uma melhor pessoa. Estarei a milhas de ser a pessoa que posso ser, mas tenho hoje a certeza de que sei para onde quero caminhar. A vida continuará, dentro do possível, dentro dos mil e um cuidados que nos próximos meses teremos de ter. Darei, sempre que for relevante, notícias do nosso gigante filho, daquele que se tornou, por seu mérito, e apenas por seu mérito, um exemplo de um heroísmo humano, com aquela humanidade que só as crianças sabem ter. Que todos (a começar por mim) saibamos, a partir de agora, colher um pouco dessa humanidade. Até já.