
Este sábado, 21 de junho, Carlos Moedas foi visto como nunca antes. Numa franca conversa com Daniel Oliveira, em Alta Definição, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa mostrou-se 'um livro aberto' com relatos da infância à idade adulta, aos quais não escaparam emotivos testemunhos.
Depois de ter recordado as suas origens humildes, o político de 54 anos falou sobre a ligação que "sempre" teve com a sua irmã mais velha, que considera "uma pessoa fantástica". Ao fazê-lo desabafou sobre os 'duros' momentos pelos quais já passaram - um cancro e a doença do "alcoolismo" do pai foram alguns deles.
"Ainda me lembro do dia em que ela me telefonou a dizer que tinha um cancro e o sofrimento que isso foi, arrancaram-me o coração, a minha irmã não merecia. Ainda tenho o amargo de boca quando ela me disse que tinha um cancro e de dizermos: 'que injustiça, com 30 anos'", começou por dizer, recordando a ajuda que teve da sua parte, quando chegou a Lisboa, aos 18 anos.
"Não lhe dou o tempo que devia"
"Depois a luta que aquilo foi, são anos... Felizmente passaram e ela está bem, mas a saúde não a poupou. Depois de tanto sofrimento e de me ter ajudado tanto quando vim para Lisboa - ela começa a trabalhar, era ela que me ajudava financeiramente, os meus pais ajudavam-me um bocadinho, mas eu contava com ela. Ela deu tudo, deu a vida toda também por mim", continuou, acrescentando que a irmã "tem uma admiração enorme" por si e que se irrita "muito quando há algumas coisas na internet, ou nas redes sociais, contra o irmão", entre risos.
Por conta da sua atividade profissional, Carlos Moedas acaba por estar mais longe da irmã do que o que queria e tem noção disso mesmo. "Eu às vezes não lhe dou o tempo que devia, não estou com ela o que devia, mas ela sabe que pode sempre contar comigo e sabe que eu tenho um amor enorme por ela e que é a pessoa que mais me ajudou sem nunca me pedir absolutamente nada", referiu.
"Tem tido uma vida muito difícil, de doença, de desemprego numa altura da vida dela, e isso dói-me muito porque nós nascemos no mesmo sítio e as nossas vidas foram tão diferentes, mas ela é muito melhor que eu, a minha irmã é muito melhor do que eu, é uma pessoa fantástica. Tenho uma admiração por ela, porque ela deu tudo, deu tudo para cuidar dos meus pais, deu tudo para cuidar dos filhos, deu tudo aos outros e esqueceu-se dela", confessou o convidado do Diretor de Programas da SIC.
As palavras que nunca esqueceu: "'Vai, eu fico cá por ti'"
Mas a relação com a irmã não lhe proporcionou apenas a ida para capital portuguesa em busca de um curso superior. Carlos Moedas também lembrou o papel fundamental desta 'companheira desde o berço' durante a época em que seguiu para França, numa "bolsa de Erasmus".
Na altura, o pai encontrava-se doente, mas a sua irmã não pensou duas vezes. "'Carlos tira isso da tua cabeça, segue o teu caminho, eu estou cá aqui para aparar tudo, para resolver. Vai, eu fico cá por ti'", recordou o político.
Ao saber que "ia deixar a família nas mãos dela", Carlos Moeda teve ainda mais receios e por isso mesmo, apesar de não existirem telemóveis à época, comunicava com a irmã pelo telefone que existia na cidade universitária francesa onde se encontrava.
"'Como é que o pai está?'. 'Está ótimo, está melhor', [dizia] a mentir, mas era uma mentira que eu precisava porque ela não me queria preocupar e portanto ela acabava por fazer algo que era de uma coragem enorme. Ela estava a ver o problema, na dor do problema, mas mentia-me para me resguardar e eu no fundo sabia que ela não me estava a dizer exatamente a verdade", memorizou.