Numa entrevista à Lusa, em Lisboa, Lucrécia Vinhaes, que, com o marido, Roberto Vinhaes, fundou o Prémio PIPA e a The PIPA Foundation, afirmou que o casal quer desenvolver projetos em Portugal, para onde se mudou em 2021, com o objetivo de "divulgar a arte brasileira internacionalmente".

A exposição 'O Brasil são muitos', patente no torreão nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa, até 15 de junho, reúne parte da coleção do Instituto PIPA, acervo construído ao longo dos últimos 15 anos, desde a criação do já "reconhecido" Prémio PIPA de arte contemporânea brasileira.

Os trabalhos, "além de refletirem a pluralidade e a força da arte que vem sendo produzida no país, também se entrelaçam com as mudanças culturais e políticas presenciadas [na] última década e meia no Brasil", segundo a nota de divulgação da exposição.

Esta exposição, que é a primeira mostra internacional do Instituto Pipa, conta com trabalhos de Aleta Valente, Alice Miceli, Arjan Martins, Bárbara Wagner, Berna Reale, Daniel Beerstecher, Denilson Baniwa, Gê Viana, Guerreiro do Divino Amor, Hal Wildson, Letícia Ramos, Paulo Nazareth, Romy Pocztaruk, Sofia Borges, Tatiana Blass, Virginia de Medeiros, Vitória Cribb, UÝRA, e Xadalu Tupã Jekupé.

A exposição resultou de uma parceria entre as Galerias Municipais e a The PIPA Foundation (Fundação Pipa) e será visitada pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, na próxima quarta-feira, no âmbito da inauguração da Feira Internacional de Arte Contemporânea ARCOLisboa.

O Instituto PIPA foi criado em 2010, no Brasil, com o objetivo de ajudar a documentar e a promover o desenvolvimento da arte contemporânea brasileira, valorizando a pluralidade de trajetórias e perspetivas.

Lucrécia Vinhaes disse à Lusa que o casal procura agora "outras oportunidades e outros projetos" com a intenção de "divulgar a arte brasileira internacionalmente".

Em Portugal, a ideia é "criar parcerias com espaços de exposição" e, eventualmente, "comissionamento de trabalho de artistas", disse.

Com os seus fundadores em Portugal, o PIPA pode "ser uma ponte para o intercâmbio de arte portuguesa e brasileira", fazendo, por exemplo, uma exposição de um artista português no Brasil e de um brasileiro em Portugal, acrescentou.

Os responsáveis do PIPA não excluem a hipótese de virem a criar uma fundação em Portugal, como fizeram há uns anos no Reino Unido, explicou.

Lucrécia Vinhaes salientou que "muitos artistas brasileiros" estão a estabelecer-se em Portugal, incluindo vários que participaram no Prémio Pipa e foram vencedores.

A exposição na Cordoaria Nacional foi, assim, "o primeiro passo", e, na sua opinião, está a correr "muito bem", contando na abertura com 200 visitantes e até agora já foi visitada por 1.634 pessoas.

"O que queremos fazer é uma grande ponte e mostrar a arte brasileira para o mundo e eventualmente fazer um intercâmbio com artistas portugueses (...) e de Portugal para a Europa", disse, lembrando que já existe a Fundação Pipa no Reino Unido e que "já houve contactos (...) para exposições ou projetos na França".

França, Reino Unido e Portugal "foram os países onde surgiram conversas maiores" até agora, concluiu, não descartando a possibilidade de criar um prémio de arte em Portugal.

"O foco no momento é Portugal", sublinhou.

A fundação no Reino Unido partilha a missão do instituto, mas mais com o foco de viabilizar ligações entre artistas e curadores brasileiros e o cenário internacional, fortalecendo a importância do Brasil no panorama artístico contemporâneo.

O casal mudou-se para Portugal em 2021, depois de ter vivido e criado a fundação no Reino Unido.

Sobre o Brasil de hoje, a fundadora do Instituto e do Prémio Pipa salienta que não está "num momento bom" e não vê "um futuro próximo com boas notícias" para o seu país, pois falta "uma terceira via" com uma liderança "honesta" que defenda "o interesse real do país.

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