![Quase 60% dos jovens da vila angolana de Cafunfo diz ter medo de falar](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Para 70% dos jovens a pobreza e a violência estão entre os principais problemas, revela-se também no estudo "Akweze Cafunfo. Silêncio Ensurdecedor" sobre a situação dos direitos humanos da juventude nesta zona mineira da província da Lunda Norte, promovido pela organização Mosaiko e apresentado em Luanda.
Foram validados mil inquéritos a jovens com idades entre 15 e 35 anos feitos em vários bairros de Cafunfo, localizado no município do Cuango, onde a incidência da pobreza atinge 90,4% da população.
A vila mineira, sem estatuto administrativo-político claro, tem uma população estimada de cerca de 150 mil habitantes e localiza-se nas proximidades da Sociedade Mineira do Cuango, uma zona de exploração diamantífera, com uma produção média de 28 mil quilates/mês.
Os jovens inquiridos, dos quais apenas 22% completaram o ensino médio, estão na sua maioria desempregados (60%), havendo 23% com empregos informais, 4% com empregos formais e 8% que se dedicam ao garimpo (atividade ilegal de exploração de diamantes), enquanto 5% afirmaram não ter idade para trabalhar.
Cerca de 30% declararam ganhar por mês menos de 15 mil kwanzas (15 euros) e 16% conseguem entre 26 mil e 40 mil kwanzas e 39% responderam que os rendimentos não são suficientes para sustentar a família.
No relatório do Mosaiko, 44% dos participantes disseram que os direitos humanos são completamente desrespeitados ou pouco respeitados pelas autoridades locais e pelo Governo de Luanda e 27% prefeririam não responder.
Entre estes direitos destaca-se maior insatisfação com o acesso à energia pública (91%), acesso a água potável e direito ao saneamento básico (87%), enquanto 83% se declararam pouco ou nada satisfeitos com o direito ao lazer e espaços públicos, com o direito a não ser detido arbitrariamente e com o direito à justiça.
A liberdade de ir e vir recolheu um maior grau de satisfação com 40% de satisfeitos ou muito satisfeitos.
Os problemas são normalmente apresentados à polícia (53%), indica-se no estudo, segundo o qual "este resultado aponta para um cenário de conformidade numa vila altamente securitizada, quer por forças de ordem publica, quer por empresas privadas, onde a desconfiança reina".
A maioria dos inquiridos fez uma apreciação negativa de Cafunfo: 57% pensam que a vila não é pacífica, segura e tranquila; 69% afirmam que há muita pobreza, 69% dizem que há muita violência, 57% indicam que a vida é complicada por causa dos imigrantes e 45% consideram que a vida é difícil por causa da indústria mineira, que dizem não contribuir para o desenvolvimento (67%).
Aos jovens foi também perguntado sobre a liberdade de expressão, com 58% a declararem que as pessoas têm medo de participar e de se expressar livremente, enquanto 18% mostraram opinião contrária e 24% optaram por não responder.
Foram também questionados sobre os acontecimentos de 31 de janeiro de 2021, que ficou conhecido como "Massacre de Cafunfo" e 54% consideraram que não foi feita justiça, 20% responderam "não sei", 17% preferiram não responder e apenas 9% disseram que sim.
O incidente, que causou um numero indeterminado de pessoas em Cafunfo (entre menos de dez na versão oficial a mais de 50 na versão de organizações não-governamentais e ativistas) teve diferentes versões: a polícia angolana disse que se tratou de um ataque à esquadra num ato de rebelião do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe, enquanto moradores e membros do movimento falavam numa tentativa de manifestação contra as más condições de vida que foi reprimida com violência.
RCR // JMC
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