O acesso da ponte de Katembe estava bloqueado por manifestantes desde cerca das 09:40 locais (menos duas horas em Lisboa) e após a intervenção da polícia, que obrigou os automobilistas a retirar as viaturas paradas nos dois sentidos, antes da praça de portagens, a circulação foi gradualmente reposta.

Contudo, a circulação foi retomada juntamente com o pagamento de portagens e após algumas dezenas de viaturas passarem os pórticos, as primeiras começaram a parar depois da praça de portagens, obrigadas por outros manifestantes, bloqueando novamente o único acesso rodoviário da zona sul do país de e para Maputo.

Enquanto dezenas de pessoas optavam por fazer o percurso a pé, inclusive atravessando a ponte, cujo trânsito pedonal é proibido, a polícia voltou a lançar gás lacrimogéneo e a fazer disparos para tentar desmobilizar o novo bloqueio, cerca das 14:45 locais, precipitando a fuga por momentos de quem se encontrava no local.

Já durante a manhã, a polícia tinha disparado e lançado gás lacrimogéneo junto à portagem.

Uma granada de gás acabou por atingir uma viatura que estava na fila, bloqueada pelo protesto, deflagrando no seu interior e provocando ferimentos ligeiros na única ocupante.

A Rede Viária de Moçambique (Revimo), responsável pela construção, conservação e exploração de várias estradas nacionais, anunciou no sábado que retomaria hoje a cobrança de taxas nas portagens no país, suspensas devido aos protestos pós-eleitorais.

Também a sul-africana Trans African Concessions (TRAC), concessionária da estrada N4, que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia, retomou, na quinta-feira, a cobrança de portagens, causando igualmente revolta popular.

O então candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou em dezembro ao não pagamento de portagens no país, sendo que, após a destruição e vandalização de algumas cabines de cobrança, várias foram fechadas, sem receber pagamentos.

Entretanto, num documento publicado na terça-feira, com 30 medidas que exige para os próximos 100 dias, Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro que deram a vitória a Daniel Chapo, voltou a apontar a não cobrança de portagens em todo o país como exigência.

Já a Revimo refere que as taxas cobradas através das portagens garantem a manutenção das infraestruturas rodoviárias, afirmando que vai continuar a implementar medidas para a mitigação dos custos, "incluindo descontos" para o transporte coletivo de passageiros e de utilizadores frequentes.

Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, com confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, além de saques e destruição de equipamentos públicos e privados.

De acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, nestes protestos há registo de pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e pelo menos 750 pessoas baleadas.

 

PVJ // VM

Lusa/Fim