“Maria” é mais do que um nome — é símbolo de herança, de resistência, de quotidiano e de luta. Milhões de mulheres carregam este nome que atravessa gerações, geografias e realidades sociais. Neste painel, três Marias deram o seu testemunho, personificando “o poder das Marias”: Maria Duarte Bello (professora universitária e autora da obra “Liderança no Feminino”); Maria Francisca Gama (escritora e Forbes Under 30); e Maria Purificação Tavares (médica geneticista, BD na CGC Genética Unilabs, e presidente da Associação Rede Mulher Líder).

As três Marias convidadas para falar no Forbes Women Summit mostraram que a determinação e a ação são o que as define.

Maria Duarte Bello

Maria Duarte Bello, que estudou os preconceitos de género e da liderança feminino, incentivou a audiência feminina, que estava em maior número no evento organizado pela Forbes Portugal, a “acreditar que as pessoas são capazes” de fazer o que sonham: “Não há nada que seja um obstáculo”, disse, complementando que “muitas vezes somos nós que colocamos obstáculos a nós próprios”.

Maria Duarte Bello, professora universitária e autora da obra Liderança no Feminino. Foto: Marisa Cardoso

A professora universitária enfatiza que “precisamos de role models”: “Precisamos de mulheres inspiradoras que conseguem, mulheres que vão conseguir e queiram ser aquilo que querem ser. Eu consegui ser muitas coisas a que me propus. Eu quis ser advogada e fui, quis ser coach e fui, quis ser escritora e sou, quis ser mãe e sou, quis ser avó e sou”, refere Maria Duarte Bello, sublinhando a importância de ter sonhos e de acreditar neles para os atingir.

A autora da obra “Liderança no Feminino” partilhou ainda uma expressão com que, numa ocasião, a “brindaram”: “Disseram-me que ‘não vais conseguir. Isso foi a ‘pica’ que me deram para eu conseguir!”. A expressão era destrutiva, mas revelou-se motivadora para si.

Maria Francisca Gama

Maria Francisca Gama, escritora e Forbes Under 30, trouxe para o painel “O poder das Marias” um dos principais estigmas que, enquanto escritora, sente, que é a questão da literatura feminina: “Muitas das vezes esta expressão é usada para encaixar as autoras mulheres num segmento de literatura que é diferente da dos homens. Um exemplo: se um escritor escreve uma obra em que aborda relações românticas, os críticos referem que ele escreveu sobre a importância das relações humanas. Contudo, o mesmo livro escrito por uma mulher, já vão afirmar que escreveu um livro light, que é um livro só para mulheres e e em princípio tem capa cor de rosa”.

Maria Francisca Gama, escritora e Forbes Under 30. Foto: Marisa Cardoso

Esta jovem escritora diz que, desde que começou a escrever com a perspetiva de se profissionalizar, “algo que eu soube que teria de batalhar, enfrentando as gerações que estão para trás e inspirando as futuras, é que a literatura não tem género. Vale por si só. O que importa é o que que está no papel, independentemente de quem a escreveu”.

Maria Francisca Gama indicou que “A Cicatriz”, o seu último livro, versa sobre violência de género e violência sexual: “É um livro feminista, mas não feminino, em que as mulheres são vítimas, mas no qual encontram força. São mulheres que mostram que depois de um dia mau, vêm dias bons” e que “todas as profissões e sonhos são possíveis de alcançar com trabalho”. Para esta autora, enche-a de satisfação o facto de as pessoas mais novas que ela poderem encontrar em si um exemplo de alguém que as podem servir de modelo, pois, “se quiserem ser escritoras, podem vir a sê-lo”. Porém, embora goste muito de trabalhar e escrever, a jovem escritora afirma que gosta “muito mais de viver e da família que estou a construir. Por mais sucesso que a profissão me traga, eu quero que, no final do ano, quando alguém me perguntar sobre o que me faz feliz, será alguma coisa pessoal que tenha vivido com o meu marido e com a Amália, a minha filha que aí vem”.

Maria Purificação Tavares

Maria Purificação Tavares, médica geneticista, BD na CGC Genética Unilabs, e presidente da Associação Rede Mulher Líder, trouxe o exemplo do seu percurso para mostrar como é importante lutar pelos objetivos que motivam as pessoas: “Disse aos meus pais que queria ir para Nova Iorque sozinha fazer o doutoramento. O meu pai, como professor universitário e pessoa muito aberta, respondeu-me aquilo que muitas vezes me respondia perante outras questões: ‘mas o que é que te impede?’ e esse ‘o que é que te impede’ fez-me fazer e fez-me fazer muitas coisas”.

Maria Purificação Tavares, médica geneticista, BD na CGC Genética Unilabs, e presidente da Associação Rede Mulher Líder. Foto: Marisa Cardoso

Maria Purificação Tavares lembra que foi para Nova Iorque, onde passou seis anos: “Lá estava convencida de que seria capaz de fazer o que quisesse e ai de quem dissesse o oposto”.

Enquanto responsável pela Associação Rede Mulher Líder, que reúne PME, sobretudo empresas exportadoras, Maria Purificação Tavares declarou que o seu propósito é capacitar as pessoas a agirem: “Temos de capacitar as pessoas para serem membros do Conselho de Administração” das empresas.

Capacitar para agir foi, assim, a nota final deixada por Maria Purificação Tavares — e talvez o fio que une estas três Marias.