Uma nova geração de negócios cripto de alto risco está a expandir a concessão de empréstimos com novas formas de crédito em ativos digitais, três anos após um colapso no mercado ter provocado uma vaga de insolvências.

Segundo o Financial Times, uma instituição financeira sediada em São Francisco, Divine Research, concedeu cerca de 30 mil empréstimos de curto prazo sem garantia desde dezembro.

«Estamos a emprestar a pessoas comuns, como professores do ensino secundário, vendedores de fruta… basicamente, qualquer pessoa com acesso à Internet pode ter acesso aos nossos fundos», disse o fundador da Divine, Diego Estevez, ao Financial Times. “É microfinanciamento com esteroides”, acrescentou.

A Divine oferece empréstimos de menos de US$ 1.000 em USDC, a ‘stablecoin’ da Circle, um ativo criptográfico que corresponde ao valor do dólar americano, a consumidores com dificuldades financeiras, principalmente no estrangeiro e que se encontram fora das instituições tradicionais. A empresa usa o sistema de leitura da íris de Altman para garantir que os mutuários não possam criar uma nova conta.

Os empréstimos criptográficos explodiram em 2022, depois de uma queda nos preços dos criptoativos ter desencadeado uma espiral de falências, culminando no colapso da bolsa FTX. O chamado inverno criptográfico que se seguiu durou quase dois anos. Mas a aceitação dos ativos digitais pelo presidente dos EUA, Donald Trump, fez com que os investidores voltassem em massa ao mercado. O preço da bitcoin disparou para níveis recorde e grandes instituições financeiras como o JPMorgan estão a considerar entrar no mercado de empréstimos criptográficos.

Segundo o jornal, os empréstimos têm, na sua maioria, taxas de juro fixas entre 20% e 30%.

Os empréstimos sem garantia são intrinsecamente arriscados, pois não há ativos disponíveis para recuperar as perdas caso o mutuário entre em incumprimento. Mas representam uma enorme oportunidade para a indústria de criptomoedas, afirmam especialistas ao Financial Times. As transações de crédito em blockchain são verificáveis e permanentes, mas os críticos argumentam que as questões de anonimato e de aplicação da lei são limitativas.

A maioria dos mutuários da Divine não eram utilizadores regulares de criptomoedas. Os empréstimos são financiados por depósitos de indivíduos. Segundo Estevez, “qualquer pessoa pode fornecer liquidez. Concebemos o sistema de forma a que, após contabilizar as taxas de incumprimento e as taxas [de juro] oferecidas, os fornecedores tenham sempre lucro”, afirmou ao jornal.

O Financial Times recorda ainda que a bolsa de criptomoedas Coinbase, nos EUA, anunciou em março uma parceria com a OpenAI para criar agentes de inteligência artificial que têm as suas próprias carteiras de criptomoedas e podem fazer operações financeiras de forma autónoma.

Outro projeto chamado Wildcat foi lançado para ajudar empresas de trading e formadores de mercado a obterem linhas de crédito flexíveis, com juros fixos e menos garantias, usando a rede Ethereum (a segunda maior do mundo em criptomoedas).