A incerteza económica crescente, alimentada por tensões geopolíticas e fricções comerciais globais, está a enfraquecer a eficácia da política monetária na zona euro, conclui um estudo levado a cabo pelo Banco Central Europeu (BCE).

A análise conduzida por Andrea Falconio, economista no BCE, e Julian Schumacher, investigador sénior no BCE, conclui que, em contextos de maior imprevisibilidade, as alterações nas taxas de juro têm efeitos significativamente mais reduzidos sobre a inflação e o emprego.

“Quando a incerteza é elevada, empresas e famílias hesitam em investir em planos de longo prazo, reagindo menos a mudanças no custo do financiamento”, sublinham os autores.

A análise recorre ao indicador de incerteza baseado na produção industrial da zona euro, que em 2025 atingiu o nível mais elevado desde a pandemia de COVID-19, comparável apenas ao registado durante a crise da dívida soberana.

De acordo com as estimativas, uma descida surpresa de 100 pontos base nas taxas de juro tem impacto visível em tempos de estabilidade: inflação mais alta e desemprego mais baixo. No entanto, sob forte incerteza, esse mesmo choque revela-se quase inócuo. “O efeito máximo sobre a inflação, após dois anos, não é estatisticamente diferente de zero, e no caso do desemprego é cerca de 17 pontos base menor”, destacam os economistas.

Os resultados sugerem que os bancos centrais terão de agir de forma mais vigorosa em períodos de elevada incerteza, caso pretendam alcançar os mesmos efeitos que obteriam em ambientes económicos mais previsíveis.

Contudo, os autores alertam que tal não significa necessariamente políticas mais agressivas em todos os cenários: “A própria incerteza já torna empresas e famílias mais cautelosas, o que pode amplificar ou contrariar o sentido das decisões do banco central”.