Nasci em Angola. Cresci entre as suas ruas poeirentas e os sorrisos luminosos do seu povo. Vivi a força das suas mulheres, a sabedoria dos seus mais velhos, o talento dos seus jovens. E, com o tempo, fiz da ponte entre culturas e sectores a minha missão.
Hoje, escrevo com o coração apertado. Angola vive dias difíceis. O descontentamento cresce nas ruas e os sinais de um mal-estar colectivo tornaram-se impossíveis de ignorar. Greves, protestos, e em alguns casos, actos de violência e destruição. A frustração é real. A dor é profunda. Mas a resposta precisa ser maior do que a reacção.
Este não é um texto técnico. Não é uma análise política nem um manifesto económico. É uma carta aberta de alguém que ama profundamente este país – e que se recusa a desistir dele.
Num tempo em que os dedos se apontam, em que o medo se instala e em que as feridas se alargam, o que mais precisamos é de um pacto de escuta. Um pacto onde o povo possa exprimir as suas angústias sem ser silenciado. Onde os líderes possam reconhecer erros sem serem destruídos. Onde a reconstrução seja uma obra colectiva, e não apenas uma promessa eleitoral.
A crise que Angola enfrenta não é só económica – é espiritual, emocional, ética. É uma crise de confiança, alimentada por décadas de desigualdade, de oportunidades perdidas, de expectativas traídas. Mas também é, paradoxalmente, uma oportunidade.
É na dor que os povos renascem. É no caos que se testam os valores. E é no momento mais escuro que pode nascer a luz de um novo entendimento.
Aos cidadãos, deixo um apelo à coragem serena: não deixem que a indignação se transforme em destruição. Há formas de lutar que não destroem, mas edificam. Há formas de resistir que elevam, em vez de rebaixar.
Aos líderes, deixo um apelo à humildade firme: escutem. Escutem com o coração. Não apenas os números, os relatórios, as estatísticas – mas as histórias reais, as vozes roucas, os olhos cansados que pedem apenas dignidade.
E aos que, como eu, têm o privilégio de transitar entre mundos, entre culturas e sectores, sejamos pontes. Sejamos espaços de diálogo. Sejamos presença ética num tempo de ruído.
Angola tem tudo para vencer. Tem talento, recursos, cultura, inteligência e fé. O que precisa agora é de uma nova aliança entre povo e poder, entre gerações, entre quem sonha e quem decide.
Por mim, continuarei. Continuarei a trabalhar, a criar, a contribuir. Porque amar Angola não é apenas sentir, é agir. E eu escolho agir com respeito, verdade e esperança.
Com o coração em Angola,
Carlos PIN Vaz
Empresário, consultor e cidadão do mundo com raízes profundas na terra angolana.