
O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.
Reforço do Bolton quando ainda tinha idade de júnior (verão de 2003), Ricardo Vaz Tê subiu de forma quase imediata à equipa A e foi ganhando o seu espaço nos trotters. No entanto, a partir da sua quarta época no clube, o internacional jovem por Portugal debateu-se com graves lesões nos joelhos, num cenário que o marcou.
«A lesão em si é dolorosa, mas o mais difícil foi sentir que o fisioterapeuta e o clube desistiram de ti. Depois olhas à volta e pensas 'O que é que eu vou fazer? É o único mundo que conheço, o que vou fazer com 21/22 anos?'. O fisioterapeuta disse-me mesmo para procurar outra coisa porque o meu joelho não ia dar», começou por descrever, recordando depois um episódio em concreto:
«Foram lesões constantes, era difícil. Lembro-me de vir jogar a Alvalade [Taça UUEFA 2007/08] e de eu estar a voar, estava mesmo entusiasmado por voltar a jogar em Portugal. No entanto, quando acabo de jantar no dia antes do jogo, levanto-me, dá-me um choque no joelho e quase caio. Chamei o doutor e entretanto o meu joelho começou a inchar, sendo que ele me deu umas pastilhas e eu joguei o jogo todo com líquido no joelho. Mas o futebol é isso: tirando eu, o doutor e o treinador, ninguém sabia realmente como é que eu estava. Depois cheguei a Inglaterra e fui operado.»
De resto, o antigo atacante explicou ainda em que ponto é que percebeu que tinha efetivamente de parar para recuperar na totalidade.
«Naqueles três anos e meio foi sempre assim. Lesionava-me, era operado, voltava a treinar, era operado de novo... A recuperação da última lesão durou 18 meses. Antes de eu parar dessa vez, tinha o joelho completamente rebentado, parecia que tinha uma bola de ténis ou futsal, de tão inchado que estava. No entanto, eu treinava assim. Só que chegou a um ponto em que o treinador Gary Megson me pôs de lado e mandou-me para a equipa B. Aqui eu tinha de fazer um esforço enorme para treinar todos os dias e mostrar que era muito melhor do que eles para voltar à equipa A. Queria mostrar que o conseguia e, como deves imaginar, cometi erros enormes nessa fase. Estava com uma depressão em cima, vivia no casino, fui a uma mulher de vodoo... Coisas absurdas. Quando consegui voltar à equipa principal, fui logo convocado e entrei num jogo em Old Trafford. Foi aí que parei e pensei 'Não, tenho de tratar do meu joelho'», vincou.