É impressionante como a Alemanha continua a revelar jovens talentos de enorme qualidade. Em praticamente todas as posições, defesas, médios, avançados, surgem regularmente jogadores com potencial para brilhar ao mais alto nível. Mas é na baliza que os alemães parecem ter um dom especial.

Durante décadas, a Alemanha foi sinónimo de guarda-redes de classe mundial. Primeiro com Oliver Kahn, depois com Manuel Neuer, que redefiniu o papel do guarda-redes moderno. Agora, uma nova geração começa a ganhar forma, e com ela nasce um possível novo triunvirato de ouro: Noah Atubolu, Jonas Urbig e Tjark Ernst.

Estes três jovens guarda-redes têm vindo a destacar-se pela maturidade que demonstram em campo e pelas qualidades técnicas que, para mim, os colocam já num patamar de elite mundial. Atubolu, por exemplo, é aquele que neste momento parece estar mais preparado para assumir a baliza de uma grande equipa e, em breve, da própria seleção principal.

Com apenas 23 anos, já é titular no SC Freiburg e tem mostrado um nível de consistência muito raro para a idade que tem. É frio, tem um excelente posicionamento, toma boas decisões e é muito completo no jogo com os pés, o que, no futebol atual, é praticamente obrigatório. Tem personalidade. Não treme nos jogos grandes, não inventa quando não é preciso, e isso vale muito para um guarda-redes.

Já Jonas Urbig não é o mais vistoso, nem aquele que faz as defesas mais espetaculares, mas talvez seja o mais cauteloso dos três. Cresceu muito nas seleções jovens e nota-se que tem um perfil mais clássico, sabe posicionar-se, domina o espaço aéreo com segurança e transmite tranquilidade para os colegas da equipa.

Na última época, apesar de ter estado emprestado ao Greuther Fürth, mostrou que está pronto para voos maiores. Pertencia ao Colónia, mas foi adquirido, de forma permanente, pelo Bayern Munique. Ainda assim, quando se estreou pelo clube bávaro, durante a lesão de Manuel Neuer, as coisas não lhe correram da melhor forma. Acusou a pressão, teve algumas dificuldades e revelou que ainda precisa de crescer para estar à altura de um palco dessa dimensão. No entanto, tem todas as ferramentas para evoluir, desde que seja bem gerido e receba minutos com regularidade num ambiente competitivo.

Por fim, Tjark Ernst. Talvez o menos conhecido dos três. Com 22 anos e ao serviço do Hertha Berlin, conta com uma presença importante entre os postes e uma capacidade de fazer defesas “à queima”. Tem ainda algumas arestas por limar, principalmente no controlo da profundidade e no jogo com os pés, onde está um pouco atrás dos outros dois, mas compensa com reflexos rápidos, coragem e uma agressividade positiva que, quando bem controlada, faz a diferença.

Pode não ser o mais “bonito” de ver jogar, mas é eficaz e tem margem para crescer bastante. Ernst, já foi associado ao FC Porto como possível substituto de Diogo Costa, caso este deixasse o clube, um sinal claro de que já começa a despertar atenção fora da Alemanha. Se conseguir evoluir num contexto mais competitivo e for bem trabalhado, pode tornar-se uma das grandes surpresas da próxima década.

No fundo, aquilo que mais me impressiona neste trio é a diversidade de estilos e a qualidade que já apresentam apesar da juventude. A Alemanha sempre foi um país de grandes guarda-redes, mas a capacidade de formar três perfis muito distintos e tão promissores ao mesmo tempo é algo raro, mesmo nos padrões germânicos.

Nenhum deles está ainda ao nível de Neuer ou Kahn, é verdade. Mas todos têm ferramentas para lá chegar, com tempo, com paciência e com as escolhas certas nas suas carreiras. O futuro da baliza da seleção alemã está bem entregue. Literalmente. E se me pedissem hoje para apostar num nome que, dentro de poucos anos, poderá ser o número um da Mannschaft, diria Atubolu. Sem dúvida. E Urbig logo atrás. Quem sabe, com Ernst a surpreender todos. Este triunvirato alemão não é apenas uma promessa, é uma garantia de que a baliza da Alemanha continuará a ser uma das mais fortes do mundo.