As vivências em Inglaterra fizeram Ruben Amorim perder o instinto de sorrir. Antes, por tudo e por nada, escapavam dos seus trejeitos sinais de entusiasmo. A alegria nem tinha que intervir com grande afinco. Era natural erguer os cantos da boca sem precisar de um guindaste. A espontaneidade fez com que o batizassem como “Smile One”, mas o hábito perdeu-se na ausência de indícios de um futuro igualmente risonho para o Manchester United.

Quando perderam pela 15.ª vez, os red devils quebraram o recorde de mais derrotas na Premier League. Ocupando a 15.ª posição na tabela a três jornadas do fim, está também já assegurado que acima do oitavo lugar o Manchester United não fica, confirmando-se a pior classificação final no campeonato (desde 1992, quando a Liga Inglesa começou a ser disputada nos moldes em que a conhecemos atualmente). Será também a época com menos vitórias e os golos marcados também estão em mínimos históricos.

Chegar à Liga dos Campeões via Premier League tornou-se uma quimera. A única maneira de o fazer será através da Liga Europa, competição que foi uma redoma esta temporada. Nela o Manchester United não somou qualquer derrota e conseguiu chegar a uma final que dá esperança.

A vitória por 3-0 na primeira mão da meia-final, levava a decisão já bastante inquinada para Old Trafford. No Teatro dos Sonhos, o Athletic marcou primeiro por Mikel Jauregizar. Os ingleses iam desperdiçando oportunidades para apunhalarem a eliminatória. Alejandro Garnacho teve as portas escancaradas, mas não foi capaz de inaugurar o marcador para os red devils. De seguida, Unai Núñez cabeceou perto do poste numa lance que, se fosse concretizado, iria por certo causar nervosismo.

No entanto, o Manchester United foi arrasador nos 20 minutos finais. A varinha de Leny Yoro, central ilustre no trato da bola, tocou em Mason Mount que, com uma rotação não menos mágica, dizimou as esperanças dos bascos de jogarem a final em casa. A partir daí foi um fartote. Casemiro marcou de cabeça, Højlund fez o mesmo à boca da baliza e Mount estabeleceu o 4-1 (7-1 no agregado) com um remate praticamente do meio-campo com o pior pé.

Michael Steele

Ruben Amorim manteve imaculado o registo pessoal desta época, que inclui Manchester United e Sporting. Em 14 jogos nas competições europeias venceu 11 e empatou três. A chegada à final que se realiza no San Mamés faz o técnico de 40 anos equiparar-se a José Mourinho. Os portugueses são os únicos treinadores da história do Manchester United a conseguirem levar o clube a uma final europeia na primeira época no cargo.

“Dar algo aos adeptos” é a prioridade de Ruben Amorim, disse na conferência de imprensa depois da meia-final. Defrontar o Tottenham, uma equipa igualmente à procura de absolvição devido ao que fez no campeonato, vai ser “enorme especialmente por causa da época na Premier League”, mesmo que a Liga Europa não seja “o título mais importante”.

Quando era jogador, ficou célebre um vídeo de Ruben Amorim no qual entrevistava colegas do Benfica no avião. O momento de júbilo fez parte dos festejos da qualificação para a final da Liga Europa, em Turim, contra o Sevilha, a única em que participou de botas calçadas.

Bilbao acolherá a hipótese de redenção de Ruben Amorim. Será a sua chance para apresentar provas do trabalho feito na rivitalização de um dos maiores clubes do mundo. Em caso de conquista, será também um autoelogio. Afinal, levar “a pior equipa da história do Manchester United” a um título europeu engrandece-o.