Decorria o ano de 2004, e o Lyon via nascer aquela que prometia ser uma das grandes pérolas do futuro do futebol francês e mundial. De origem tunisina, mas com raízes francesas profundas, o jovem Hatem Ben Arfa procurava aos poucos o seu espaço no grande clube francês.

Dono de um pé esquerdo fabuloso, aliado à sua rapidez de execução, drible fácil e uma velocidade desconcertante, Ben Arfa é um dos últimos exemplos de jogador que trazia para dentro do campo a “ginga” do futebol de rua e a arte do joga bonito que empolgava tudo e todos.

Durante anos a fio, todos os olhos tiveram postos em Ben Arfa, o “Houdini” francês, outrora apelidado de futuro Zidane, que prometia, prometia, mas que nunca chegou a cumprir realmente o seu enorme potencial. Para os grandes amantes de futebol, como eu próprio, Ben Arfa está diretamente ligado aquilo que é o futebol em estado puro, com todas as suas especificidades.

Lembro-me como se fosse hoje daquela eliminatória do Benfica de Jorge Jesus frente ao Newcastle, onde a equipa inglesa tinha uma grande ameaça nas suas fileiras. Pois claro, essa ameaça chamava-se Hatem Ben Arfa, e entrou em campo com os holofotes postos em si, com a bola sempre colada ao pé esquerdo, brilhou e encantou todos os adeptos no estádio e nas televisões por este mundo fora… Assim era Ben Arfa, um dos últimos agitadores puros, sem medo de partir para cima do adversário, numa finta magnífica ou numa movimentação eficaz que pudesse causar o maior perigo possível na defesa adversária, sempre com a sua classe a brilhar mais alto.

Durante a sua carreira, para além do Lyon e do Newcastle, passou ainda por clubes como Marselha, Nice, Paris Saint Germain, Rennes, Valladolid, Bordéus e Lille, num percurso ligado à controvérsia e à sua pouca concentração.

Na sua melhor época da carreira, ao serviço do Nice, Ben Arfa fez 18 golos e sete assistências em 37 jogos, números estes que quase o catapultaram para a lista final de Deschamps para o Euro 2016, o que ainda assim acabou por não acontecer.

O que faltou realmente a Ben Arfa para que a sua carreira tivesse sido muito melhor? Acredito que faltou o compromisso, faltou a garra do próprio jogador para se assumir perante todos os outros, no entanto, teve também algumas lesões complicadas, o que pode também ter anulado a sua plena afirmação.

Hoje, o que lemos da carreira do “Houdini” não faz, de todo, jus aquilo que Ben Arfa era em campo, por isso convido todos os jovens a ver e rever vídeos do mago francês, um autêntico doce para os nossos olhos, alguém que fazia tudo parecer mais fácil, mantendo sempre, no entanto, um perfume e uma classe que eram realmente diferenciadas.

As ruas nunca vão esquecer o pé esquerdo e a figura que era Hatem Ben Arfa, um dos últimos grandes desequilibradores que o futebol mundial teve a honra de ver brilhar

Obrigado Houdini por fazeres os meus olhos um bocadinho mais felizes a cada toque teu numa bola.