
Falar do presidente Pinto da Costa é falar de alguém que para o FC Porto e mesmo para o desporto nacional, para mim, terá de ser considerado um dos melhores dirigentes desportivos de sempre. Incontornáveis os 40 anos à frente do clube, com muitos sucessos, muitas conquistas, mas acima de tudo de uma liderança consistente e na qual muitos dos jogadores, treinadores e quem trabalha dia a dia com o presidente se revê.
A minha relação com ele desde o primeiro dia foi sempre de grande cordialidade e respeito, que ele nutre por todas as pessoas que passaram pelo FC Porto, independentemente da modalidade. É isso que deixa transparecer. Uma relação sempre muito próxima e presente naquilo que é o dia a dia do clube e com os próprios jogadores, sempre com uma palavra positiva e grande serenidade, a defender os interesses do clube.
Desde o primeiro dia em que o conheci, ele foi muito sincero e objetivo comigo. Eu era capitão na altura do Boavista e que não estavam interessados em mim por ser o capitão do Boavista, mas por aquilo que poderia ajudar o FC Porto a conquistar. Era exatamente isso que eu pretendia. E fez-me logo ver aquilo que é a grandeza do clube e a necessidade de vitória e de vencer, identificou-me logo com aquilo que era a cultura do clube.
E nunca mais me esqueço, na casa do falecido chefinho, Reinaldo Teles, que foi onde tivemos uma das primeiras reuniões, disse-me: “Estás preparado para vir para o FC Porto?”. Respondi, “claro”, com entusiasmo, e ele: “Certo. Mas primeiro vou-te fazer uma pergunta, ‘Estás preparado para em 10 jogos que vais fazer pelo FC Porto, nove serem muitos bons e um ser mais ou menos, e os adeptos e a crítica só se vão lembrar daquilo que é o jogo mais ou menos, porque o nível tem de ser sempre muito bom?’ Se estás preparado para isso, és bom vindo ao clube, se não tiveres preparado, amigos como dantes.”
Acho que isto revelou bem aquilo que é a exigência que se tem no clube, aquilo que é a forma como ele queria e via o clube também, e a forma como quem vem para o clube tem de sentir. Esta foi a primeira lição que tive dele, entre muitas outras.
Tive a felicidade de ainda estar alguns anos como jogador do FC Porto e outros dois enquanto treinador e ele também foi uma das pessoas que me convenceu a prosseguir a carreira de treinador da equipa sub-17 do FC Porto, após o encerramento da minha carreira.
Recordo a presença sempre em momentos cruciais, quer no balneário, quer em jogos. Era fundamental para o clube ser o que é.
Era uma enciclopédia, que tinha uma cultura que todos reconhecemos, muito acima da média, a todos os níveis, independentemente do assunto, e era uma pessoa que gostava de rodear-se de quem pode ajudar o clube, porque estaria a ajudá-lo a ele também.
A grandiosidade que o FC Porto tem hoje é lógico que se deve a ele, a construção de um clube que não era tão reconhecido nem a nível nacional, nem a nível mundial e que hoje em dia é o que é. O FC Porto e Pinto da Costa estão ligados, é algo que não podemos dissociar.
Este testemunho foi recolhido e transcrito pela jornalista Alexandra Simões de Abreu.