O seu percurso como treinador principal é ainda curto – grande parte da temporada 22/23 no Torreense, na Liga 2, e dois meses e meio no Casa Pia, na Liga, em 23/24, como última experiência profissional. Como o descreve até agora?
Sinto-me plenamente capaz e preparado para o que fizemos e penso que mesmo na forma como as equipas estiveram nestas últimas duas temporadas revelou uma consistência, trabalho, organização e penso que os resultados são também indiciadores disso. Claro que depois a sequência deles é que pode levar a algumas alterações, mas penso que há uma imagem de marca daquilo que foi feito e sente-se que há um dedo.
Se no Torreense protagonizou uma época bem conseguida, no Casa Pia cumpriu 11 jogos até deixar o clube. Entre eles, boas exibições e vitórias até robustas, como uma goleada aplicada ao Moreirense, e um momento menos feliz, que passou pelos 8-0 sofridos em Alvalade frente ao Sporting. Teve que ver com audácia em excesso?
É possível que sim. Estamos também a falar de um jogo com características específicas, no qual o adversário foi muito eficaz e em poucos remates conseguiu fazer muitos golos, mas o que digo é que, como treinador, passar por essas experiências nos aumenta a riqueza e, naturalmente, há erros e coisas boas que vão connosco no nosso percurso.
Trabalhou com Paulo Fonseca em clubes de gabarito como o Shakhtar Donetsk e a Roma. É a sua inspiração como treinador?
A nível de ideias de jogo sim, na parte humana igualmente, é uma pessoa fantástica e na parte humana é uma referência. A passagem enquanto adjunto foi em clubes de referência, estamos a falar de mais de 400 jogos feitos com o Paulo, em competições europeias penso que são à volta de 70 jogos, e isso leva a que eu tenha participado na preparação dos jogos, no modo como se treina, comunica e aplica a estratégia para cada um dos jogos.
Depois, a parte que nos torna mais ricos é a de liderarmos, de sermos nós a propor as tarefas, de sermos nós a voz ativa da equipa técnica, e eu nunca senti problemas no que a isso diz respeito. Se a base pode ser do Fonseca? Claro, há sempre uma base com que nos identificamos mais. Mas o futebol moderno também nos leva a olhar para outras coisas, que nos levam a pensar e há uma forma base da nossa equipa jogar.
Leva um percurso longo, de mais de nove anos, como coordenador técnico, de formação, como adjunto de Paulo Fonseca e, desde há pouco mais de um ano, como treinador principal. Todas estas experiências tornam-no mais completo?
Julgo que o nosso percurso é feito disso. A passagem pelo futebol de formação e em vários destes pontos enriquece-nos imenso e faz-nos evoluir muito no jogo, como se pode evoluir na prática do jogo.
No seu percurso já trabalhou, em momentos diferentes, nos quatro clubes de maior poderio em Portugal – Benfica e Sporting ainda numa fase mais precoce e depois no FC Porto e SC Braga. Essa bagagem torna-o muito mais experiente do que parece à superfície? Olha-se para o facto de ter cerca de um ano como treinador principal e, erradamente, avaliá-lo como inexperiente?
Sim, no FC Porto e no SC Braga estive com o Paulo (ndr: Fonseca)…o nosso percurso não é só feito do que fizemos no último ano, é feito do que são as nossas vivências, e claramente que sinto isso, por isso é importante o nosso passado e olhar para o que queremos do futuro, acima de tudo. São vivências que fazem parte do meu passado, que me enriqueceram imenso, e às vezes não sei se é positivo ou negativo ter passado por essas realidades todas…
Mas, pelo menos, há a capacidade que tive de passar por várias pessoas e ter uma relação de amizade com muitas delas também, em cada um desses clubes, e o reconhecimento do que foi o nosso trabalho. Já há uma imagem de marca que realmente só pode advir das minhas vivências – a partir daí, eu acredito que a valorização dos jogadores tem muito que ver com a sua forma de jogar e que as minhas vivências me permitem estar preparado para todos os cenários que possam vir a aparecer.