O que se viu de novo
Saíram Adán, Neto, Coates e Paulinho, mas este Sporting não tem ares de revolução ou de mudança radical. Perderam-se referências de balneário, capitães, mas é possível desenhar um onze praticamente igual à equipa mais utilizada na época passada. Foi isso que se viu no 2-2 frente ao Union St. Gilloise.
Depois de três particulares à porta fechada, o último deles esta manhã, frente ao Portimonense (triunfo por 2-0), o primeiro teste aberto mostrou tendências e rotinas conhecidas da era Rúben Amorim. Três centrais, procura por chamar o adversário através da posse, Nuno Santos e Geny dando largura e profundidade, Pote a marcar.
Nesta dinâmica de dois amigáveis num dia, com dois onzes completamente diferentes, as grandes novidades estiveram nas duas extremidades do campo. Kovacecic na baliza, Rafael Nel na frente.
Enquanto Gyökeres recupera da lesão, dando autógrafos e exibindo a sua popularidade na bancada, é Rafael Nel quem tenta marcar pontos como ponta-de-lança, aguardando-se o fim da novela grega de Fotis Ioannidis.
O jovem de 19 anos esteve ativo e mexido, tentando dar muito trabalho frente a um adversário de nível, vice-campeão belga e vencedor da Taça, equipa que entrará oficialmente em 2024/25 já dia 20 de julho, na Supertaça.
Em cima do intervalo, Nel abriu o marcador, sorrindo como sorri um adolescente a cumprir um sonho. Teve sentido de oportunidade, rematando para uma baliza deserta a passe de Morita. No arranque do segundo tempo, Nuno Santos, o capitão de serviço — outra das novidades num balneário que terá de encontrar novos líderes —, serviu Nel com precisão, mas o atacante não recebeu nas melhores condições e a oportunidade de bisar perdeu-se.
No segundo tempo, Pote, muito bem servido por Mateus Fernandes, aumentou a vantagem. Na parte final, Noah Sadiki e Promise David fixaram o 2-2 final.
Os reforços
A única verdadeira aquisição é Vladan Kovacevic. O guardião aproveita a ausência de Franco Israel, de férias devido à Copa América — tal como Inácio, Hjulmand e Debast, estes devido ao Europeu —, para mostrar-se como dono da baliza.
Aos 26 anos, o gigante que nasceu na Bósnia e também tem nacionalidade sérvia mostrou-se tranquilo no jogo de pés, fazendo duas boas defesas aos 57' e aos 65'. Parece isento de culpas no excelente remate que levou ao 2-1 mas, no 2-2, não terá deixado a melhor imagem.
Após um bom passe na profundidade, Kovavecic hesitou na saída. Promise desmarcou-se bem nas costas da defesa e, num momento fundamental para um guarda-redes do Sporting de Amorim, no momento que acabou por decidir a final da Taça da época passada contra o FC Porto, o reforço não terá tido a melhor leitura. Foi fintado e chegou o empate.
Como começou
Kovacevic; Quaresma, Diomande, Matheus Reis; Geny Catamo, Mateus Fernandes, Morita, Nuno Santos; Trincão, Pote, Rafael Nel
Como acabou
Só uma substituição, com a entra de Justo nos derradeiros instantes.
Kovacevic; Quaresma, Diomande, Matheus Reis; Geny Catamo, Mateus Fernandes, Morita, Nuno Santos; Trincão, Pote, Samuel Justo
O melhor
Mateus Fernandes. O médio já andava a jogar Liga dos Campeões há quase dois anos, mas foi após a época passada no Estoril que mostrou, definitivamente, ser jogador de um nível elevado. Aproveitando a ausência de Hjulmand e com Bragança no grupo dos que atuaram no amigável da manhã, fez parceria com Morita e chegou a encher o setor intermédio.
Forte nos duelos e na reação à perda, o lance em que assiste Pote para o 2-0 define-o. Sai da pressão com técnica e mudança de velocidade, possante, juntando a essa aceleração capacidade para definir. Soltou da melhor maneira e convidou o transmontano a marcar.
Ainda sem qualquer jogador de campo contratado, Mateus Fernandes candidata-se a melhor cara nova para o plantel de Rúben Amorim.
A banda sonora
Dois jogos no mesmo dia. Encontros no Estádio Algarve, esse elefante-branco filho do Euro 2004, talvez o símbolo máximo de uma candidatura que teve estádios a mais, despesa a mais. Jovens à procura de um lugar ao sol. 11 substituições feitas pela equipa belga.
Quase tudo na noite deste amigável remete-nos para pré-época, para futebol de verão, para começos. Ou, no caso do Sporting, recomeços. Não há aqui novas eras a madrugarem, mas sim a tentativa de evoluir na continuidade.
Nesta intro ao 2024/25 dos leões, nos primeiros minutos com transmissão televisiva e público nas bancadas, até a displicência com que os verde e brancos lidaram com a reação belga evidencia a diferença entre um amigável e partidas à séria. Para o Sporting, à séria só a 3 de agosto, frente ao FC Porto, na Supertaça.
Depois, passada uma semana, inicia-se o campeonato, com a receção ao Rio Ave. E um objetivo claro, enunciado em pleno Marquês de Pombal: ser bicampeão pela primeira vez desde os anos 50.