André Villas-Boas praticamente assumiu durante a apresentação de Francesco Farioli enquanto novo técnico do FC Porto, que o emblema do Dragão ia realizar o “maior mercado de sempre” durante a janela de transferências de verão (ficou por esclarecer se já está a contar com a contratação de Gabri Veiga ou a aquisição em definitivo de Nehuén Pérez). O discurso é ambicioso, nomeadamente para uma instituição que se encontrava financeiramente arruinada há pouco mais de um ano atrás.

Não é preciso andarmos décadas para trás para verificarmos quando foi o mercado com maior investimento do FC Porto. No verão de 2019 os dragões gastaram 63 milhões de euros e o balanço não foi tão positivo como o que se almejava. Chegaram nomes que resultaram como Matheus Uribe, Luis Díaz ou Iván Marcano. Contudo, também aterraram no Sá Carneiro Shoya Nakajima, Zé Luís ou Renzo Saravia, que não deixam boas memórias aos adeptos.

André Villas-Boas não é diretor desportivo, mas deveria saber que nem sempre um investimento brutal traz a qualidade necessária. São inúmeros os flops mundiais que chegaram aos seus clubes carregados de expetativas devido ao preço que custaram. Ainda assim, o FC Porto está obrigado a realizar uma pequena revolução no seu plantel, de maneira a poder lutar pelo título em 2025/26. Esta verdade absoluta não vem de mãos dadas com um investimento pesado.

As diferenças entre os estilos de jogo entre Martín Anselmi e Francesco Farioli não são tão chocantes e há uma coincidência numa série de critérios. No entanto, a equipa do FC Porto nas mãos do argentino não funcionou, nem nas de Vítor Bruno. O plantel dos azuis e brancos está vários degraus abaixo do de Benfica e Sporting, que são mais completos e têm peças muito mais valiosas.

André Villas-Boas ainda não deu começo à ‘operação saídas’, numa fase em que nos encontramos ao dia 10 de julho. O dirigente sabe que não é complicado vender peças com bom mercado. O complexo das janelas de transferências é colocar os jogadores com quem Francesco Farioli não conta e que não têm qualidade para fazer parte do plantel. Há uma série de atletas que integram este lote: Samuel Portugal, Fábio Cardoso, Zaidu Sanusi, Marko Grujic, André Franco, Danny Namaso ou Deniz Gul. O FC Porto vai retirar pouco benefício financeiro destes jogadores.

Existem dois casos dos quais os azuis e brancos vão conseguir lucro (à partida), mas têm que ser vendidos no imediato. Pepê e Otávio Ataíde não podem integrar a equipa na próxima época. O primeiro, porque já devia ter sido vendido há vários mercados, já que vive uma trajetória descendente. O segundo, porque acumula problemas extracampo e envolve os seus colegas nos mesmos, aparentando desde os tempos de Famalicão ser uma figura problemática e que pode causar atritos com qualquer membro. Se há algo que o FC Porto terá que zelar em 2025/26 é um balneário saudável e para isso não podem existir bombas relógio.

André Villas-Boas tampouco pode fechar a porta a ofertas por jogadores importantes como Diogo Costa, Rodrigo Mora ou Samu Aghehowa, se quer encerrar a janela de transferências no positivo, ao mesmo tempo que realiza investimentos importantes. A direção deveria inicialmente apontar às cláusulas de rescisão do médio ofensivo e do avançado, mas não se pode fechar em copas e ser irredutível, já que percentagens de futuras vendas são uma ótima cláusula para o futuro para qualquer clube.

O FC Porto terá identificados uma série de alvos para o mercado de transferências de verão. Até ao momento chegaram João Costa (Estrela da Amadora) e Dominik Prpic (Hajduk Split). Não se espera que nenhum deles venha para ser titular. O guarda-redes até pode assistir à saída de Diogo Costa, mas Cláudio Ramos provou no Mundial de Clubes 2025 que está apto para assumir o posto. Já o central é uma aposta para o futuro, que não substitui diretamente a retirada de Iván Marcano, que tem que ser colmatada por um elemento com uma outra experiência, que pede o tal investimento prometido por André Villas-Boas.

Francesco Farioli é um fiel seguidor da escola de Roberto De Zerbi e não está tão associado a um sistema tático, com os jogadores a ocuparem uma série de postos em campo. Contudo (no desenho), o 4-3-3 é a tática que lhe assenta melhor e que vamos utilizar para fazer o seguinte exercício: quantos reforços precisa o FC Porto?

Olhando para as opções com que o italiano conta, este deveria ser o seu onze inicial: Diogo Costa, Martim Fernandes, Nehuén Pérez, Zé Pedro, Francisco Moura, Alan Varela, Stephen Eustáquio, Rodrigo Mora, Gabri Veiga, Pepê e Samu Aghehowa.

Não se trata de um mau elenco, mas o banco é manifestamente pobre, especialmente no meio campo, onde Tomás Pérez e asco Sousa se transformam nas principais alternativas. Posto isto, é obrigatório entradas, até mesmo para o onze. Falta um central que seja o patrão da defesa e que saiba sair a jogar, um médio que possa assumir o posto de 8 e um extremo, em caso de venda de Pepê. Gabri Veiga terá que jogar no tridente da frente, já que Rodrigo Mora tem para si reservado o posto de médio ofensivo, sendo que o espanhol pode partir de zonas exteriores para as interiores. Além disso, os dois podem coincidir muito bem em campo, dadas as movimentações dos jogadores dentro do sistema, promovidas por Francesco Farioli.

Já para o banco, Francisco Moura não tem uma alternativa válida, tal como Samu Aghehowa, mas a questão do ponta de lança apenas se prende em caso das confirmações das saídas de Deniz Gul ou Danny Namaso.

André Villas-Boas também terá que olhar para dentro de casa. O FC Porto B realizou uma Segunda Liga 2024/25 abaixo do esperado, mas o conjunto conta com algumas promessas nas suas camadas jovens. Gabriel Brás pode lutar por um lugar no plantel principal, assim como Ángel Alarcón. Mateus Cunha, Martim Chelmik, Mateus Mide, Anhá Candé, Bernardo Lima ou Yoan Pereira têm potencial para voos mais altos e seguirem os passos de Rodrigo Mora, mas para isso é necessário que Francesco Farioli e a sua equipa técnica os analisem. Isto significa que todos vão ser como o (ainda) número 86? Nem pensar, mas podem a pouco e pouco conquistar o seu espaço. Isto levaria a um maior número de jogadores formados no Dragão a integrar o elenco, o que levaria a uma menor necessidade de contratação de reforços com a função de ‘encher o plantel’. Conseguirá o FC Porto um lateral esquerdo com maior potencial de Martim Cunha para ser a sombra de Francisco Moura por um baixo custo? Não.

A direção da instituição voltou a prometer uma equipa competitiva, quiçá repetindo o erro da época passada, onde André Villas-Boas deveria ter sido mais contido, aplicando a política do ano zero. O dirigente está a criar muitas expectativas sob a próxima época e com a promessa do “maior mercado de sempre”, terá obrigatoriamente que trazer nomes importantes e que consigam encher novamente as bancadas do Dragão.

A direção desportiva tem quase dois meses para mostrar o que vale, numa fase em que Andoni Zubizarreta nem aparece nas fotografias com os reforços (Jorge Costa tem cada vez mais protagonismo na estrutura do Dragão). Na minha opinião não é obrigatório o FC Porto fazer o “maior mercado de sempre”, mas não pode falhar nos nomes que forem contratados. O dinheiro que está nos cofres da instituição continua contado, embora André Villas-Boas tente vender um cenário de ilusão aos associados. Uma situação para acompanhar nas próximas semanas.