
Num mundo onde o futebol parece cada vez mais pautado pela força física, velocidade bruta e números inflacionados, Florian Wirtz representa algo raro: a elegância racional.
Com apenas 22 anos, o alemão não é só um talento precoce. É, acima de tudo, uma mente lúcida num jogo cada vez mais caótico.
O que impressiona em Wirtz não são apenas os números: 10 golos e 12 assistências em 31 jogos na Bundesliga, e um total de 16 golos e 14 assistências em 45 jogos ao longo da época de 2024/25. Um registo que sublinha a sua capacidade de manter o rendimento elevado, mesmo quando a temporada exige mais fisicamente.
O que o distingue de tantos outros “jovens promessas” da Bundesliga, é a tomada de decisão. O jovem de Pulheim joga com uma maturidade de veterano, e escolhe sempre a melhor solução no momento certo. É o tipo de jogador que faz os colegas melhores, que lê o jogo antes de todos, e que antecipa os ataques como se já tivesse visto a jogada no dia anterior. Não é à toa que Xabi Alonso o descreveu como “um cérebro com pernas”.

Muitos “10´s” do passado brilhavam sozinhos, longe da estrutura tática, mas não é o caso de Wirtz. Ele é um jogador adaptado ao futebol atual: pressiona alto, recua na construção, flutua entre linhas e ainda finaliza com critério. É um jogador completo, moldado para os ritmos modernos, mas com a alma dos velhos mágicos.
A sua contribuição na época invicta do Bayer Leverkusen foi prova disso. Num coletivo ultra-organizado de Alonso, Wirtz foi a peça solta que fazia a diferença. Não um rebelde, mas um génio disciplinado, que entende os automatismos e os rompe no momento certo.
O salto para o Liverpool, a troco de, nada mais nada menos, do que 150 milhões de euros, não é apenas o reflexo do mercado em inflação. É o reconhecimento claro de que estamos perante um jogador excecional.
Num clube que perdeu Klopp e procura uma nova identidade com Arne Slot, Wirtz pode ser o alicerce do novo projeto, não apenas uma estrela.
Mas esta transferência traz também riscos. A Premier League é mais física, mais exigente e menos tolerante com jovens criativos.
No entanto, Wirtz tem algo que muitos falham ao dar este passo: consistência emocional e inteligência tática. Se o deixarem crescer com espaço e responsabilidade, ele pode ser o “novo De Bruyne” ou algo ainda mais raro: um 10 com impacto coletivo ao estilo de Iniesta.
Além disso, o jovem alemão não vai sozinho para terras de Sua Majestade. Jeremie Frimpong também já faz parte da comitiva “Scouser”.

Na seleção alemã, também é titular e decisivo. No Europeu de 2024, abriu o marcador no jogo de estreia, demonstrando que não se intimida com os grandes palcos. Com Julian Nagelsmann, deverá crescer ainda mais, numa equipa que, finalmente, volta a confiar nos talentos técnicos e criativos.
Se as lesões o pouparem e o contexto lhe for favorável, não há razão para que Florian Wirtz não esteja na discussão para o Ballon D’or nos próximos anos. Ele joga para ganhar, para organizar e para dominar. Tal como o Liverpool nos tem habituado, e que, certamente, seguirá a demonstrar na próxima época.
Florian Wirtz não é apenas uma promessa cumprida. É um espelho de para onde o futebol pode, e deve, evoluir: um jogo mais pensado, mais coletivo, mais inteligente. E por isso, mais bonito.