Uma Carreira Definida por Altos, Baixos e Potencial Não Realizado
A passagem de Esteban Ocon de cinco anos pela Alpine/Renault será lembrada como uma história de brilhantismo ocasional intercalado com as frustrações de estar preso na implacável luta do meio do pelotão da Fórmula 1. Desde a sua notável vitória no Grande Prémio da Hungria de 2021 até as defesas resolutas que gravaram o seu nome na história da F1, o tempo de Ocon com a equipa anglo-francesa destacou tanto o seu potencial como as limitações de uma equipa incapaz de se elevar acima da sua trajetória no meio do pelotão.
Ao deixar a Alpine uma corrida antes do planeado, Ocon deixa para trás um legado misto que destaca os desafios de liderar uma equipa de fábrica sem os recursos ou a estabilidade para competir ao mais alto nível.
Os Altos: Um Vislumbre de Brilhantismo
O tempo de Ocon na Alpine foi pontuado por atuações de destaque que mostraram a sua excecional habilidade em corrida:
- Vitória no GP da Hungria de 2021: A primeira vitória de Ocon veio através de uma execução impecável e uma calma notável, resistindo a um Sebastian Vettel em ataque numa corrida caótica.
- Pódio em Interlagos 2023: O seu segundo lugar na chuva foi uma aula de mestria em adaptabilidade e precisão.
- GP de Mónaco de 2022: Um resistente terceiro lugar, onde Ocon defendeu-se de Lewis Hamilton com o seu característico aço.
- Corrida de Suzuka de 2022: Quarto lugar em condições traiçoeiras de chuva, onde o estilo de condução clássico de Ocon manteve Hamilton à distância volta após volta.
Estes momentos demonstraram a capacidade de Ocon de entregar resultados quando a confiança e as condições se alinhavam, oferecendo vislumbres tentadores de um piloto capaz de competir com os melhores.
A Luta do Meio do Pelotão: Consistência Sem Glória
No entanto, para todos os altos e baixos, o tempo de Ocon na Alpine foi definido pelas realidades meandrantes do meio do pelotão de uma equipa que não conseguiu viver à altura do seu potencial. As classificações no campeonato de construtores de 5º, 4º, 5º, 6º e provisoriamente 6º para 2024 refletem uma equipa presa em terra de ninguém.
- 58% das voltas de corrida passadas entre o 7º e o 12º lugar ilustram a luta da carreira de Ocon na Alpine, onde desempenhos notáveis foram frequentemente perdidos em meio ao mundano.
- Quatro pódios em cinco temporadas sublinham quão raramente o carro foi capaz de competir na frente.
Apesar de alguns momentos de brilho, a passagem de Ocon pela Alpine muitas vezes pareceu um caso de “o que poderia ter sido” numa equipa que falhou em fornecer uma máquina consistente.
As Batalhas com os Colegas de Equipa: Forças e Frustrações
As batalhas de Ocon com colegas de equipa de alto perfil definiram grande parte da sua jornada na Alpine:
- Daniel Ricciardo (2020): Ocon teve dificuldade em recuperar a forma após um ano de ausência, terminando atrás do australiano tanto nas qualificações como nas corridas.
- Fernando Alonso (2021-2022): Embora Alonso tenha sido o piloto mais forte no geral, a tenacidade de Ocon tornou-o uma dor de cabeça para o espanhol, com batalhas notáveis que por vezes ultrapassaram os limites.
- Pierre Gasly (2023): O foco da equipa começou a mudar para Gasly a meio de 2023, e a frustração de Ocon em Mónaco, onde ignorou as ordens da equipa, simbolizou a crescente divisão.
A divisão de 50/50 nos resultados de corrida de Ocon contra os seus colegas de equipa e o registo de 46/54 nas qualificações demonstram que ele foi consistentemente sólido, mas não dominante, uma característica da sua passagem pela Alpine.
Uma Relação Fraturada com a Alpine
A relação de Ocon com a Alpine azedou à medida que as dificuldades da equipa aumentavam. Problemas técnicos persistentes, que Ocon frequentemente destacava, eram muitas vezes negados pela equipa, criando uma atmosfera de desconfiança. A sua frustração transbordou no início deste ano, quando criticou a equipa por ignorar feedback e por não resolver problemas recorrentes.
No início de 2024, a situação já era evidente. A crescente influência de Gasly e os conflitos internos de Ocon sinalizavam o fim do seu tempo na Alpine, culminando na sua saída antecipada antes de Abu Dhabi.
Legado e O Que Vem a Seguir
A passagem de Ocon pela Alpine será lembrada por:
- Momentos de brilho, como a sua vitória na Hungria e as suas masterclasses defensivas.
- Oportunidades perdidas, uma vez que uma equipa de trabalho promissora não conseguiu superar o meio do pelotão.
- Uma dínamo complexa, onde Ocon nunca foi o líder absoluto da equipa, mas sempre um performer fiável.
Aos 28 anos, Ocon faz a transição para a Haas com a oportunidade de se reinventar numa operação mais enxuta e agressiva. A sua comprovada capacidade de lutar no meio do pelotão garante que continuará a ser uma presença formidável, e com o ambiente certo, o seu melhor ainda pode estar por vir.
Conclusão
As cinco temporadas de Esteban Ocon na Alpine encapsulam os desafios de um piloto de F1 do meio do pelotão: entregar desempenhos consistentes numa equipa incapaz de competir consistentemente no topo. Embora o seu tempo com a equipa anglo-francesa nunca o tenha visto emergir como um candidato ao título mundial, a sua resiliência, habilidade em corrida e ocasional brilhantismo garantiram o seu lugar como um dos talentos mais fiáveis do desporto.
Com o capítulo na Alpine encerrado, a mudança de Ocon para a Haas representa uma oportunidade de redescobrir a fome e o fogo que o impulsionaram para a F1—e talvez, alcançar novas alturas.