
Após anos de espera, o futebol alemão prepara-se para recuperar uma das suas rivalidades mais emblemáticas, o dérbi de Hamburgo está de volta à Bundesliga. O St. Pauli e o Hamburgo SV, dois clubes com identidades profundamente distintas, mas com uma cidade em comum, voltarão a enfrentar-se no principal escalão do futebol germânico. E este reencontro não poderia surgir em melhor altura.
Este dérbi é muito mais do que futebol. É história. É cultura. É política. É identidade. De um lado, o Hamburgo SV, o “Dino” da Bundesliga, apelido nascido da sua impressionante longevidade no topo do futebol alemão, que só terminou com a descida em 2018. Um clube com títulos nacionais e europeus, que representa a tradição, o peso da história e o orgulho de uma cidade habituada à elite. Do outro, o St. Pauli, o clube alternativo, com raízes na contracultura, conhecido pela sua postura antissistema, pelas bandeiras arco-íris nas bancadas e por adeptos que vivem o clube como uma extensão da sua própria identidade.
Durante anos, este dérbi viveu fora dos grandes palcos. A última vez que se jogou na Bundesliga foi em 2010/11, com uma vitória do St. Pauli em pleno Volksparkstadion. Desde então, o Hamburgo SV tentou várias vezes regressar à primeira divisão, sempre com ambição, mas também com finais de época dramáticos e dolorosos. O St. Pauli, por sua vez, parecia confortável no papel de outsider, mas em 2024/25 quebrou esse ciclo e subiu como campeão da segunda Bundesliga.
Agora, com ambos de volta ao principal campeonato, Hamburgo reencontra-se com a sua alma futebolística. O dérbi não é apenas um jogo, é um acontecimento que transforma a cidade. A semana que o antecede é marcada por tensão e expectativa. Os bares enchem-se, os murais ganham cor, os metros são palcos de cânticos e provocações, e as ruas dividem-se entre castanho e azul. Quando há dérbi, Hamburgo para. Literalmente.
Os adeptos são o coração desta rivalidade. Os do St. Pauli, dos mais leais e conscientes da Europa, vivem o clube como projeto social e político, não apenas desportivo. São eles que definem o rumo do clube, com uma ligação muito direta à gestão e aos valores que defendem. Já os adeptos do Hamburgo SV vivem entre a nostalgia dos tempos gloriosos e a esperança de reconstrução. São exigentes, apaixonados e fiéis. A descida foi dolorosa, mas nunca significou abandono. Pelo contrário, alimentou ainda mais o desejo de voltar ao lugar de onde sentem que nunca deveriam ter saído.
Este dérbi representa mais do que a rivalidade entre dois clubes. É o confronto entre duas visões do mundo. Uma espécie de espelho da diversidade do futebol moderno, onde tradição e irreverência se enfrentam com respeito, mas também com uma intensidade rara. E o regresso deste duelo à Bundesliga, depois de mais de uma década, é um presente para todos os que ainda acreditam que o futebol se constrói com alma, e não apenas com orçamentos.
Porque no fim de tudo, o futebol vive de jogos assim. De rivalidades sentidas. De estádios cheios. De cidades que se dividem durante noventa minutos. E que, independentemente do resultado, sabem que há histórias que valem mais do que qualquer troféu.
O dérbi de Hamburgo está de volta. E o futebol alemão agradece.