No meio do enxame de fãs de Taylor Swift seria tarefa de modesto desafio encontrar um grande número de pessoas que desejassem usufruir de um concerto da norte-americana à porta de casa. Em Madrid, houvem que tivesse essa oportunidade e se tenha incompatibilizado com a ideia de ser castigado com a melodia de “Shake It Off” a bater à porta a horas desapropriadas.

O barulho provocado pelos dois concertos de Taylor Swift que se realizaram no Santiago Bernabéu, em maio, fizeram explodir o número de queixas contra o ruído. Não é especificamente a cantora que está a inquietar os moradores do bairro de Chamartín, mas antes exploração que o Real Madrid tem vindo a fazer do estádio, esquecendo a qualidade de vida das pessoas à volta.

“Querem que convivamos com o auditório de Florentino Pérez [presidente dos merengues]”, reclamaram os vizinhos à reportagem do “Relevo” no local. A casa do Real Madrid tornou-se então o ninho da polémica na capital espanhola, tendo até sido criada a Associação de Vizinhos Prejudicados pelo Bernabéu que reúne mais de 2.000 lesados. Para já, conseguiram que todos os concertos previstos para aquele local até março de 2025 fossem cancelados em virtude dos seus protestos, vitória que não contribuiu propriamente para cimentar uma boa relação com o Real Madrid, empenhado em rentabilizar a milionária renovação da infraestrutura com eventos de todo o tipo.

Taylor Swift num dos concertos que deu em Madrid
Taylor Swift num dos concertos que deu em Madrid Xavi Torrent/TAS24

Na mais recente batalha desta guerra, o grupo de queixosos acusou los blancos de estarem a usar uma licença de funcionamento com 23 anos e, portanto, caducada, algo que o clube negou. “É preciso tomar medidas para garantir o descanso dos vizinhos”, afirmou José Luis Martínez-Almeida, o autarca madrileno que tem tentado mediar o conflito, ao canal Telemadrid. Além da procura de garantir condições de isolamento, o líder local comprometeu-se a impor um limite de 20 concertos por ano naquele local. Tal cenário resultará numa abrupta mudança de planos para o Real Madrid, empenhado em explorar até ao limite o Santiago Bernabéu.

Quando em 2019, começaram a construir uma carapaça vistosa, um teto retrátil e um relvado que se encolhe como se fosse um transformer, os merengues tinham previsto preencher ao máximo os dias em que Mbappé e companhia não estivessem por ali a cirandar. Afinal, o investimento de €1.170 milhões tem que ser recuperado. Foi por isso que o Real Madrid assinou um contrato de €360 milhões com a Sixth Street e a Legends, empresas que passaram assim a participar na exploração do estádio, nomeadamente no que a eventos de entretenimento diz respeito, tudo aquilo de que os vizinhos se queixam.

De um lado da rua, o espetáculo. Do outro, as casas
De um lado da rua, o espetáculo. Do outro, as casas Angel Martinez

Na sempre útil página de “Quem somos?” dos sites, a Associação de Vizinhos Prejudicados pelo Bernabéu apresenta-se como um grupo de pessoas comprometidas com a “qualidade de vida dos cidadãos face aos impactos negativos do projeto de remodelação do Estádio Santiago Bernabéu e a conversão do mesmo num mega centro comercial e de espectáculos”.

Caso o Real Madrid venha a ter liberdade para cumprir o cronograma nos próximos tempos, está previsto que o estádio passe a receber 300 eventos por ano, ou seja, entre cinco/seis por semana. Na perspetiva dos moradores, além do ruído, a zona circundante ficará degradada e a criminalidade vai aumentar.