
Os 3,12 minutos que João Almeida — juntamente com outros candidatos à vitória final na Volta à Suíça — perdeu para Romain Grégoire na etapa inaugural da competição helvética complicaram, logo a abrir, a ambiciosa missão que o português levava para a corrida que antecede o Tour. Com nomes como Ben O’Connor a também ganharem dois minutos para o caldense, resultado de uma fuga mal controlada, ficava, desde logo, claro qual o caminho a seguir por Almeida.
Atacar, atacar, atacar.
Na etapa 3, João, mais conservador, começou a reduzir diferenças, ficando em segundo e ganhando seis segundos em bonificações. O show ficava para a etapa 4.
Nos 193,2 quilómetros entre Heiden e Piuro, num percurso de montanha nos Alpes, pedalando pelos telhados da Europa que separam a Suíça de Itália, umas vezes num lado da fronteira, outras vezes no outro, João Almeida provou que é o melhor escalador da competição. Há uma diferença considerável para recuperar, mas a mensagem de ambição e pernas está dada.
Foi no Splügenpass, um gigante de 2.100 metros de altitude, que a UAE-Emirates, equipa do português, se colocou ao trabalho. E foi naquele colosso, uma das passagens alpinas cheia de histórias míticas, Adamastor que separa países e cria lendas, local de neves eternas e paisagens deslumbrantes, que o vice-campeão da Volta à Suíça de 2024 voltou a mostrar o seu grande nível de 2025.
Faltavam 52 quilómetros para a meta quando Almeida acelerou pela primeira vez. A ritmo, quase sempre sentado, João foi deixando adversários para trás. Os 8,8 quilómetros de ascensão, a 7,3% de média, iam endurecendo e o ilustre cidadão de A-dos-Francos fazia os outros sofrer. Kévin Vauquelin, Ben O'Connor, Felix Gall e Oscar Onley foram os últimos a quebrar.
Entre a passagem cheia de estâncias de esqui, Almeida passou no alto do Splügenpass com quase um minuto de vantagem para os mais diretos perseguidores. Mais atrás estava Grégoire, o líder. Faltavam, ainda, cerca de 40 quilómetros, a maioria deles numa longa descida, indo montanha abaixo por entre lagos e vilas de montanha.
Durante mais de meia-hora, Almeida pedalou para baixo sozinho. Foi o momento de provar que, além de estar num grande momento a subir, também melhorou em aspetos técnicos, estando mais solto e confiante a traçar curvas, menos hesitante, mais capaz de ir sozinho a descer.
Apesar de fazer meia centena de quilómetros a solo, João cruzou, triunfalmente, a meta com 40 segundos de vantagem para o segundo classificado, Oscar Onley. Com a camisola amarela manteve-se Gregóire, apesar do minuto perdido, mais os 12 segundos de bonificações, para o português. Almeida é sétimo classificado, a 2,07 minutos da liderança. Faltam ainda quatro etapas, com bastante montanha e um contrarrelógio final que é, também, a subir.
A Volta à Suíça continua a ser palco de glória para o ciclismo nacional. Conquistada por Rui Costa em 2012, 2013 e 2014, teve em João Almeida um protagonista há 12 meses, com o segundo lugar da geral e duas etapas ganhas.
Juntar esta competição ao País Basco e à Romandia, ganhando, em poucos meses, três das sete principais corridas de uma semana, continua a ser tarefa difícil. Mas, se dúvidas houvesse, os pontos mais elevados da Europa do ciclismo evidenciaram que há, mesmo, poucos escaladores ao nível do cidadão de A-dos-Francos que alcançou a sexta vitória em 2025.