Ao oitavo combate no profissional, a primeira derrota. Em Abu Dhabi, Iuri Fernandes conheceu o sabor menos desejado por qualquer atleta, mas a verdade é que, a frio, assume que este desaire pode até ser o clique que faltava para dar o salto para outro nível.

"Foi uma derrota muito amarga. Obviamente que nunca quero perder, mas desde miúdo que sempre achei que a demonstração de superação de um verdadeiro campeão é aquele que perde o título, volta mais forte e recupera-o. Eu sempre achei que esse é o verdadeiro campeão, aquela 'redemption'. Aquele que se diminuiu à derrota e voltou mais forte e concluiu a sua tarefa, ao reaver o seu título. E eu acredito que vou reaver a minha sequência de vitórias", assumiu o lutador da KO Team.

Apesar do desaire, leva coisas positivas deste desfecho diante do hispano-marroquino Mohammed Hamdi. "Levo a aprendizagem de que há muita coisa a melhorar. O problema aqui é que senti que estive num dia não. Não fui o Iuri que costumo ser. Não fui o Iuri elétrico, Iuri incrível, imprevisível. Fui somente um lutador em cima do ringue normal, coisa que não sou, e o que me frustra é sair daqui sem o gosto de ter feito alguma coisa. Sinto que saí daqui e não fiz absolutamente nada. Não tive a capacidade, principalmente no nível de evento onde estamos, de mostrar quem eu sou e o que tenho pra dar", lamentou.

Mesmo assim, não há tempo para lamentos. "Agora é voltar mais forte. O Raúl Lemos e o João Diogo disseram-me que isto é algo bom às vezes. É meio que um abre olhos, um dia mau faz-nos recuperar vários dias bons. E é como tudo na vida: nem sempre conseguimos tudo o que queremos e também não seria assim tão divertido se acabasse a carreira invicto. É perder e voltar lá para bater nele. Foi o que o meu adversário conseguiu fazer. Mas infelizmente sinto que não dei luta sequer. Foi um dia mau, um dia menos bom. Nada saiu. O meu corpo não me reagia. O meu cérebro dizia 'vai' e o meu corpo trancava e não conseguia mexer. Acredito que só no terceiro assalto é que liguei o chip e disse 'tenho que acabar com isto agora!' Mesmo assim não consegui. Há que aprender com as derrotas. É amarga. Nem é agridoce, é mesmo amarga, é mesmo sem sabor algum. Mas que me vai levar mais alto, acredito que me vai dar mais força para chegar onde eu quero chegar", assumiu.

Uma caminhada que, em 2025, no meio de muito para ser feito noutras andanças, terá um foco bem definido: os Jogos Mundiais da China, onde representará o nosso país juntamente com Sofia Oliveira e Catarina Dias. "Terei de ter uma preparação muito focada para ali, para aquele tipo de jogo, porque é muito específico, pré-definido, muito típico. Então vou ter que ter uns meses focado para aquela prova. Isto para lá da importância que tem. Eu sou profissional, a prova é amadora, mas tem um património de muita importância para o nosso país. Gostaria muito de trazer a vitória e a medalha de campeão dos World Games. Por isso terei que ter uma preparação muito muito árdua e específica para aquele campeonato", assumiu.

Tudo gira à volta do kickboxing

Há ligações à modalidade que surgem por mero acaso, mas não é o caso de Iuri Fernandes. Tudo na sua vida parecia indicar uma carreira no kickboxing, e foi mesmo isso que aconteceu. "O kickboxing apareceu no meu caminho há muitos anos, através de um primo meu, o Vando Cabral, que também foi atleta cá em Portugal. Foi profissional e lutou com muitos grandes nomes, como por exemplo o Nino Évora. Passou essa motivação e esse gosto pelo kickboxing para o meu irmão, que consequentemente passou para mim. Isto fora as vezes em que via o João Diogo e outros mais a lutar na Eurosport quando era pequeno. Ou ainda a ver o K1 Max! No fundo, tudo à minha volta era kickboxing. Tinha de acabar no kickboxing, não é?", questionou de sorriso no rosto.

Com os seus 23 anos, ainda é um jovem nestas andanças, mas já tem muita rodagem, com passagens em eventos profissionais até na Rússia. E lá, em Perm, recorda, deu a sua melhor versão. "Nem estive perto de estar desligado. Estava com todos botões ligados! Mas acredito que aquele Iuri que viram na Rússia não apagou, não desapareceu. Está cá. Só teve um dia menos bom. Em 2025 viremos com força! Tenho uma carreira de muitos anos, para desfrutar e triunfar", finailizou.