
O caldo entornou no fim de semana, entre cartas enviadas para fora e comunicados divulgados cá dentro. Pedro Proença escreveu às 55 associações nacionais que integram a UEFA dando conta de que o seu predecessor na liderança da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) o apoiava nas eleições para o Comité Executivo da entidade, para depois, em correspondência da sua autoria, Fernando Gomes se endereçar às mesmas federações para negar o seu apoio ao homem que agora ocupa o cargo que foi seu entre 2011 e 2025. “Não declarei nem tenciono intervir no processo eleitoral, como é do conhecimento do presidente da FPF. O meu percurso no futebol terminou”, garantiu o eleito de fresco para a presidência do Comité Olímpico de Portugal.
A surpresa invadiu Pedro Proença, de pronto reator à explícita recusa de Fernando Gomes em apoiá-lo e, mais do que isso, em comunicar tal rejeição aos mesmos dirigentes a quem o novo presidente da FPF expusera o apoio do predecessor e que são os responsáveis por votar nos sete novos elementos do Comité Executivo da UEFA já esta semana, a 3 de abril. Proença logo convocou, para esta segunda-feira, uma reunião de emergência da federação com o objetivo de avaliar as “gravíssimas insinuações” do dirigente e a consequência primeira saída do encontro é um pedido da FPF para reunir “de urgência” com o Governo para “avaliação dos impactos” desta querela pública “face aos compromissos assumidos”.
A FPF crê estar "claramente em causa" a "representação nacional" no Comité Executivo da UEFA e, por arrasto, a candidatura à organização do Campeonato da Europa feminino de 2029, em conjunto com Espanha e Marrocos, à semelhança das agulhas acertadas com ambos os países com vista ao Mundial masculino de 2030, este já confirmado. É do entender da FPF, lê-se em comunicado, que caso Portugal não tenha em Pedro Proença um dos escolhidos para a direção da UEFA, “o interesse nacional e a própria eleição do candidato nacional neste processo eleitoral fica seriamente comprometida pelo impacto que a posição assumida pelo Senhor Presidente do Comité Olímpico de Portugal infligiu na credibilidade das mais relevantes instituições desportivas nacionais, que dificilmente será reversível em tempo útil”.
Além de requisitar um encontro com um Governo, de momento, com possível prazo de validade face às eleições legislativas antecipadas de 18 de maio, a direção da federação decidiu “enviar uma exposição ao Conselho de Ética do COP para avaliação da atuação do Presidente do Comité Olímpico de Portugal”. O também recém-eleito presidente deste órgão é Tiago Brandão Rodrigues, antigo ministro da educação (2019-2022) e com passado ligado à UEFA, quando a entidade o escolheu para liderar a investigação aos incidentes ocorridos, em Paris, antes da final da Liga dos Campeões da época 2021/22.
Se, até agora, não tanto publicamente, eram faladas e conhecidas as candeias às avessas entre Pedro Proença e Fernando Gomes durante os tempos, respetivamente, um comandou a Liga de Clubes e o outro liderou a Federação Portuguesa de Futebol. No entanto, o primeiro apoiou a candidatura do segundo à presidência do Comité Olímpico de Portugal, tendo Gomes, segundo o próprio, apresentado Proença à UEFA como o nome português para a corrida à direção da UEFA. A própria FPF assim o confirmou esta segunda-feira: “A FPF empenhou-se de forma ativa e comprometida nesta eleição, depositando neste processo todas as energias dos recursos envolvidos e com real perspetiva de sucesso, após a formalização do nome de Pedro Proença como candidato a este cargo, ainda na vigência do mandato da anterior Direção.”
Fernando Gomes fê-lo em fevereiro, pouco antes de cessar o seu mandato na federação e ser eleito presidente do COP.
Durante os seus 13 anos de vigência na FPF, o dirigente exerceu igualmente funções no Comité Executivo da UEFA, além de ter sido vice-presidente da entidade e membro do Conselho da FIFA. Dependendo do sufrágio da próxima quinta-feira, Pedro Proença seria mais um português a entrar nos centros de decisão da organização que manda na bola na Europa. “A FPF reafirma o seu compromisso com a estabilidade, lutando sempre de forma transparente pelos interesses de Portugal no contexto internacional e pugnando pelas boas relações com todas as instituições relevantes no universo desportivo”, defendeu a federação, que está “focada apenas no futuro e nunca colocando em causa o legado da Federação Portuguesa de Futebol”.