O que reserva o futuro para Aurnses e que função o espera em 2025/26? O médio norueguês chegou ao Benfica em 2022 e vai para a 4.ª época ao serviço dos encarnados. Aursnes chegou como uma solução para uma das duas posições mais recuadas do meio-campo no sistema de Roger Schmidt. A ideia seria jogar ao lado de Enzo, dar mais soluções com bola do que Florentino e a primeira titularidade do médio até foi ao lado do argentino Enzo Fernández.

No entanto, após lesão de David Neres, foi na posição de médio/extremo esquerdo que o norueguês ganhou protagonismo durante a 1.ª temporada ao serviço do Benfica.

Ao partir desta posição, Aursnes tinha funções importantes, tanto na fase ofensiva como na fase defensiva. Ofensivamente permitia à equipa ter ataques mais prolongados, principalmente na 1.ª metade da época em que em conjunto com Grimaldo e Enzo formavam triângulos dinâmicos onde a circulação de bola era feita com critério. Como se pode ver pela rede de passes do jogo do Benfica contra a Juventus, a contar para a 5.ª jornada da fase de grupo da Liga dos Campeões a interação entre os três jogadores era bem patente.

A ocupação e movimentação no espaço também era feita de forma muito inteligente, o mapa de passes recebidos por Aursnes nesse mesmo jogo contra a Juventus mostra que o jogador tem a capacidade de se posicionar para receber passes em que a bola progride no terreno e que raramente recebe passes que fazem uma trajetória totalmente vertical ou horizontal, já que esses são os mais fáceis de intercetar.

Em relação à criatividade, este não é a área de jogo mais forte do médio norueguês, e por isso, Aursnes funcionava mais como um ponto de apoio e equilíbrio no ataque, o jogador quando se movimentava sabia que espaço tinha aberto para o colega e para onde este se tinha de movimentar, por isso, participava facilmente em combinações diretas e indiretas.

No processo defensivo, Aursnes também era fundamental. A equipa começava a defender a partir de um 1x4x1x3x2.

Ao adotar este sistema é muito importante que os médios mais abertos/extremos tenham a capacidade de fechar os espaços centrais, e Aursnes, sendo médio centro de origem tem essa capacidade.

Como se pode notar na imagem abaixo o norueguês, mesmo jogado a partir da ala, tem um número considerável de ações defensivas em corredor central.

Além disso, quando tinhas estas funções, Aursnes apresentava grandes capacidades comunicativas, dando ao longo do jogo constantes indicações aos colegas para corrigir posicionamentos.

23/24 começou da mesma “forma” para o norueguês. O jogador começou a época a atuar como médio/extremo esquerdo, mas rapidamente se percebeu que Aursnes não teria a mesma preponderância da época 2022/23. Os companheiros no lado esquerdo do campo já não eram os mesmos, e Jurasek apresentava características bastante diferentes de Grimaldo.

O lateral checo beneficiava de um jogo mais direto, pois não possuía a mesma qualidade técnica para um estilo mais curto e posicional. Por sua vez, Aursnes não é um jogador de partir para cima do adversário com velocidade e drible, o que limitava a sua capacidade de fixar defesas e criar espaço para as projeções exteriores do lateral do seu lado. Foi por isso que, após alguns jogos, Schmidt voltou a trocar a posição e função do jogador. E quando se pensava que Aursnes podia regressar em definitivo ao meio-campo, voltou a ser utilizado como lateral.

Desta vez não como solução pontual, mas como resposta direta às exibições inconsistentes de Jurásek e às lesões persistentes de Bernat e Bah. Era uma posição que já conhecia da temporada anterior, e mais uma vez respondeu com profissionalismo e inteligência tática.

Apesar de ser um médio de origem, Aursnes conseguiu oferecer alguma segurança defensiva, boa saída de bola e critério na ocupação de espaços. Ainda assim, o contexto tático era diferente: já não havia Grimaldo nem Enzo para formar o triângulo que tanto dava ao ataque dos encarnados, e na ala direita Di María assumia um papel dominante, recebendo quase sempre aberto, para depois procurar os espaços interiores com o seu pé esquerdo.

Nesse cenário, Aursnes teve de adaptar-se a um papel mais “clássico” de lateral, oferecendo largura e profundidade, em fase ofensiva, mas também tinha de escolher bem os momentos de subir no terreno já que Di María somava muitas perdas de bola e não era o jogador com melhor reação à perda de bola.

Além disso, quando atuava do lado esquerdo com João Mário à sua frente, a ligação entre ambos nem sempre funcionava. Ambos gostavam de ocupar zonas interiores e fazer movimentos semelhantes na fase ofensiva, o que criava redundância, tirava profundidade ao flanco e dificultava a criação de espaços para as projeções exteriores. Essa sobreposição de funções fazia com que o Benfica se tornasse previsível nesse corredor, perdendo a fluidez e a imprevisibilidade que antes existiam com Grimaldo e Aursnes em 22/23.

Na época 2024/25, com a chegada de Bruno Lage ao comando técnico do Benfica, Aursnes regressou ao meio-campo, mas quando se pensava que a ex-dupla do Feyenoord Kokcu-Aursnes podia ser reeditada no Benfica, o treinador português decidiu apostar num meio-campo a três Florentino-Kokcu-Aursnes.

Em posse, Aursnes ocupava uma posição de médio interior com liberdade para se aproximar da área. O seu papel já não era tanto de equilíbrio na base da construção, mas sim de conexão entre setores e de chegada ao último terço.

Sem bola, a estrutura do Benfica desdobrava-se num 1x4x1x3x2, onde Aursnes surgia como um dos dois homens mais adiantados na pressão, geralmente ao lado do ponta de lança. Contudo, as suas responsabilidades iam muito além da primeira linha de pressão. Com Di María a partir da ala direita, mas a derivar frequentemente para o meio, era Aursnes quem tinha de fechar a ala em momentos de transição defensiva, cobrindo grandes distâncias e garantindo o equilíbrio da equipa. Era, em simultâneo, avançado na pressão, médio no posicionamento e, muitas vezes, extremo em fase defensiva – um autêntico camaleão tático.

Apesar da liberdade ofensiva, o estilo mais direto de Di María acabava por limitar o envolvimento de Aursnes nos ataques prolongados. O argentino acelerava o jogo em poucos toques, procurando soluções verticais ou movimentos de rutura, o que deixava menos espaço para Aursnes exercer o seu habitual papel de organizador em zonas adiantadas. Ainda assim, o norueguês foi uma peça essencial para a estabilidade da equipa, oferecendo soluções em todas as fases do jogo e garantindo fiabilidade onde fosse necessário.

Agora que 25/26 está prestes a começar oficialmente para o Benfica fica uma questão: Que funções vai ter Aursnes?

À entrada da temporada 2025/26, o Benfica prepara-se com um plantel mais equilibrado e soluções mais claras para cada posição. Pela primeira vez desde que chegou ao clube, Aursnes poderá deixar de ser a solução de recurso para as laterais, já que o plantel parte com duas opções naturais para cada ala defensiva, o que, em teoria, o libertará para se fixar noutras funções — onde o seu rendimento pode ser maximizado.

Se Lage mantiver o sistema base em 1x4x3x3, Aursnes poderá assumir o papel de médio-interior direito, atuando entre o lateral e o extremo no corredor. Este posicionamento pode ser especialmente eficaz com Dedić como lateral-direito: ao contrário de Bah, que procura sempre a profundidade com agressividade ofensiva, o internacional bósnio tem maior capacidade para combinar por dentro, o que favorece triângulos curtos e mobilidade posicional entre Dedić, Aursnes e o extremo-direito. A complementaridade entre os três pode tornar o flanco direito mais imprevisível e funcional, com Aursnes a oferecer critério, compensações e equilíbrio.

Em alternativa, caso o treinador opte por regressar a um 1x4x2x3x1, Aursnes pode voltar a partir de uma das alas, principalmente se o jogador que atuar como médio ofensivo (ou segundo avançado) for alguém que goste de derivar para os corredores. Nessa dinâmica, Aursnes teria liberdade para se mover para zonas centrais e compensar os movimentos interiores do colega, tal como fez com sucesso em 2022/23. A sua inteligência posicional continua a ser uma arma valiosa para ajustar o equilíbrio da equipa consoante os movimentos dos companheiros.

Seja como interior num meio-campo a três, seja como médio de ala num sistema assimétrico, ou até como peça de rotação para jogos mais exigentes taticamente, Aursnes volta a perfilar-se como um dos jogadores mais importantes no plano estratégico do Benfica para 2025/26.