No dia 10 de fevereiro de 2022, por volta das 21h – hora local, mais uma que em Portugal – aterramos na Eslovénia, mais precisamente em Ljubljana. A razão? Erasmus. Às 21:04, sensivelmente, o Olimpija Ljubljana - treinado por, imagine-se, Robert Prosinecki, mas vamos lá na segunda parte da entrevista - tinha ganho mais uns fãs. Esses quatro minutos? Foi o tempo de irmos ao zerozero e pesquisarmos sobre a equipa da cidade. A primeira coisa que fizemos na Eslovénia. Prioridades.

Nessa busca intensa por entre os meandros da complexa base de dados do zerozero eis que demos de caras com um nome conhecido: Aldair Djaló! «Será o Aldair do Penafiel?», questionámo-nos. Depois da dúvida, a certeza: era ele! Ver um jogo do Olimpija e contactar com o Aldair passou a ser o objetivo.

Olimpija Ljubljana x Radomlje no Stozice Stadium, primeira fila, sente-se o cheiro do relvado e a singularidade do futebol esloveno. Resultado final: Olimpija 4 – com golo de Aldair -, Radomlje 1. No final do jogo a tal conversa com o luso-guineense. Se ser craque dentro de campo não é para todos, sê-lo fora dele ainda é para menos e, por isso, parabéns ao Aldair por ambos.


Assim que foi confirmado o Portugal x Eslovénia voltar a falar com o avançado de 32 anos tornou-se quase obrigatório. O zerozero entrou em contacto com o jogador que agora representa o Sanliurfaspor para tentar saber mais sobre a seleção eslovena e a Eslovénia.

«Não me surpreende este feito da Eslovénia»

zerozero: Chega a partilhar balneário com o Tim Elsnik, que é o 10 desta seleção.

Aldair Djaló: Que é o número 10 agora, e era o nosso 10 e capitão da nossa equipa.

zz: Como é que ele era? Tinha peso na equipa por representar a Seleção?

AD: Ele no clube já tinha um peso bastante grande, porque era o nosso capitão e era um acréscimo também de qualidade para nós, porque é muito bom jogador, tem muita qualidade. É um jogador que já tem bastante experiência e ainda é novo. Joga praticamente todos os jogos e tem muita qualidade. A mim não me surpreende este feito da Eslovénia.

zz: Não?

AD: Quando estava lá no campeonato muitos destes jogadores que estão agora na seleção da Eslovénia já estavam no campeonato.

Aldair Djaló
2 títulos oficiais



zz: Alguns exemplos?

AD: Alguns eu joguei contra eles e conheço-os bem. O lateral-direito que fez golo agora [Žan Karničnik], com uma assistência do Timi Elšnik que já jogava no Celje e no Mura, e outros jogadores... Por exemplo, o Josip Iličić já estava no Maribor no meu último ano ali no Olimpija.

zz: Ele foi para o Maribor, exatamente.

AD: E jogou contra mim também. Bastantes outros jogadores que estão ali, inclusive tem um que ainda não jogou, mas que também é muito bom jogador, que é o Adrian Zeljkovic que é um médio que também esteve comigo ainda no Tabor Sezana, tinha acabado de chegar. E ainda não fez nenhum minuto, eu acho, mas também é um miúdo que tem muita qualidade. Por isso a mim não me surpreende tanto assim a prestação deles. E Portugal já viu e já sabe disso porque também fez um amigável contra eles e perdeu.

zz: Foi a primeira derrota da era Roberto Martínez. Quem são as maiores figuras da Eslovénia, além de Sesko e Oblak?

AD: Neste momento... Eu acho que é mesmo como equipa, porque acho que eles conseguiram construir ali um grupo bom. Tanto com jogadores já experientes, como com jogadores assim jovens, que estão a ser lançados agora. E conseguiram fazer ali uma boa mescla. Não digo assim um nome específico...

zz: A maior valia deles é o grupo?

AD: Eu acho que é mesmo o grupo e a equipa. Acho que eles conseguiram juntar ali um bom grupo e acho que vale o esforço da equipa, porque acho que como equipa eles estão bastante coesos e podem nos criar bastantes problemas.

zz: Para que perigos é que a seleção portuguesa se tem que preparar a enfrentar uma seleção como a Eslovénia?

AD: É muito isso das transições. Vão ser uma equipa muito defensiva... vão jogar contra Portugal. Não vão jogar o jogo aberto, não é? Para Portugal seria um jogo bastante melhor. Mas acho que vão estar ali um bocado mais em linhas baixas, mais recuados, à espera do erro.

zz: Ainda por cima já viram com a Geórgia e a Chéquia que isso funciona...

AD: Exatamente, jogando um pouco como a Geórgia e tentar sair no contra-ataque, tentar fazer ataques rápidos, tentar apanhar em Portugal descompensado para tentarem fazer um golo e depois estarem ali a jogar com o resultado. Acho que a tática deles será por aí, porque se tentarem abrir o jogo, é o que Portugal quer. Equipas abertas que joguem o jogo pelo jogo é o melhor para Portugal, que tem imensa qualidade e grandes jogadores que podem decidir a qualquer instante.

zz: Mencionou um tópico que gostava de aprofundar, que é a história de Josip Ilicic. Lenda do futebol esloveno, e que infelizmente passou por uma fase muito difícil, por uma depressão, e recentemente voltou para «casa», o Maribor. Coincide com o seu segundo ano de Olimpija...

AD: O reencontro dele, sim.

zz: E agora foi convocado para a Seleção... incrível.

AD: Exatamente

zz: Como é que ele era visto lá? Era tratado como uma lenda?

AD: É visto como uma lenda. Toda a gente o idolatra. Nos tempos que teve na Atalanta mostrou uma qualidade acima da média. E mesmo antes de sair da Eslovénia já tinha provado o seu valor também e já toda a gente falava dele. E ele volta ali para a Eslovénia, as pessoas ficaram expectantes, o que é que ele vai fazer? Tanto é que ele chega e no primeiro jogo faz logo um drible dentro da área e sofre penálti e depois ainda acaba por marcar perto do final. Por isso, logo ali mostrou, como quem diz: «Cheguei, não estou nas melhores condições, mas continuo a ser eu».

Aldair esteve três época no futebol esloveno @Getty /