Isto já não é o ano zero do FC Porto. É o ano menos quatro ou cinco. E num ano menos quatro ou cinco surgiu uma exibição horrível e patética na Reboleira, sobretudo até ao intervalo. Equipa que jogasse em 90 por cento dos jogos como o FC Porto jogou na primeira parte descia de divisão. Não lutava para não descer, descia de forma clara e com pouquíssimos pontos.

O Estrela da Amadora, claro, teve uma ponta de culpa neste patético jogo do FC Porto. Teve, aliás, para sermos bem rigorosos, uma grande quota-parte de culpa, explorando de forma exímia as debilidades (e são muitas) deste minidragão. Mérito para os seus jogadores, mas também mérito (e grande) para José Faria, que meteu no bolso as ideias do simpático e bem-falante Martín Anselmí.

O argentino continua a apostar numa quase peregrina ideia de jogo e continua a cair cada vez mais em desgraça entre os portistas. Quando Vítor Bruno saiu, o FC Porto estava a um ponto do Benfica e a três do Sporting. Agora está a dez de cada um deles e com um jogo a mais. Aumentou ainda mais a desvantagem para o SC Braga, não aproveitando o empate dos bracarenses em casa do Famalicão. E só passaram três meses...

O jogo quase se resume a buracos. Era uma vez um buraco. Aliás, dois. Aliás, três, Aliás, quatro. A defesa do FC Porto foi, em todo o primeiro tempo, um conjunto de buracos, buraquinhos e buracões, que o Estrela da Amadora explorou bem. Poderia ter explorado ainda melhor, mas Kikas precisou de algum tempo para afinar a mira para a baliza de Cláudio Ramos. Permitiu defesa com o pé ao guarda-redes do FC Porto, embora talvez estivesse em fora de jogo (5’); picou muito bem a bola, mas apareceu Marcano a desviar, de cabeça, por cima da barra (7’). E, segundos depois, foi a vez de Bucca rematar à barra (8’).

O FC Porto sofria, sim, e sofria muito. O talento de Mora, Pepê ou Fábio Vieira não aparecia, tal como a agressividade de Alan Varela, Eustáquio ou João Mário. Era um FC Porto indolente, passivo, expectante que raramente se viu no último meio século. E percebia-se que, a cada tentativa do Estrela em explorar os buracos, buraquinhos e buracões, o golo poderia surgir.

E surgiu aos 38’, quando poderia ter surgido bem mais cedo. Houve dois buracos no golo. O primeiro permitiu a Bucca o fantástico passe para Kikas e depois este explorou o buracão (metam buracão nisso) no centro da defesa portista para, à saída de Cláudio Ramos, fazer o 1-0. O golo apareceu aos 38’, mas poderia ter aparecido bem mais cedo.

Martín Anselmí mexeu ao intervalo, trocando Deniz Gul por Samu. Percebeu-se a ideia do treinador argentino: meter mais agressividade na frente de ataque. O problema é que o problema, digamos assim, não estava no ataque. Estava no ataque, na defesa e nos médios. E não estava só em Gul. Estava em Gul, em Mora, em Fábio Vieira, em Pepê, em Alan Varela, em João Mário, em Francisco Moura, em Eustáquio, em Zé Pedro. Só não estava em Cláudio Ramos e em Marcano. E a solução também não estaria em Samu.

Porém, o FC Porto até pareceu reentrar melhor. Mas apenas na intensidade e na agressividade. Rodrigo Mora subiu de rendimento, mas nunca para patamares parecidos com o dos últimos jogos. Fábio Vieira e Pepê seguiram-lhes as pisadas e nada de marcante fizeram. Passou a ser um FC Porto apenas medíocre, embora já não muito mau. Mas durante apenas, sejamos justos, dez ou quinze minutinhos.

Sem ponta de culpa, claro, o Estrela da Amadora continuou a fazer muito bem o que lhe era pedido: defender com tremendo rigor (e nem teve de defender muito) e atacar, de forma bem cirúrgica, sempre que era possível (e foi possível muitas vezes).

Se dúvidas havia sobre o alto rendimento do Estrela da Amadora e sobre o péssimo jogo do FC Porto, elas foram desfeitas ao minuto 62. Lançamento longo para a entrada de Kikas pela esquerda, ligeiro compasso de espera e bola colocada em Bucca, no outro lado, que desperdiçou o golo no contacto com Cláudio Ramos. O árbitro, depois de chamado ao VAR, assinalou grande penalidade do guarda-redes sobre o médio. Alan Ruiz fez o 2-0.

O resultado parecia fechado e só uma cambalhota no modo como os portistas encaravam o jogo poderia alterar algo substancial. Mora remataria rente ao poste (73’), Alan Varela teve tiraço para grande defesa de Andorinha, mas, pelo meio, houve mais um grande momento de Kikas. Grande chapelada à entrada do meio-campo do FC Porto e Cláudio Ramos, em tremendo esforço, a desviar por cima da barra. O jogo praticamente terminaria com um remate de Jovane ao poste esquerdo. O 3-0 seria, sim, o resultado mais justo para uma grande exibição do Estrela da Amadora e para uma patética exibição do FC Porto.