O folclore da Premier League diz que uma equipa, para evitar as ameaçadoras trevas da descida de divisão, tem de atingir o mais rapidamente possível a marca dos 40 pontos. Essa máxima foi questionada na temporada transata, quando o Nottingham Forest celebrou a manutenção tendo somado uns míseros 32 pontos.

Uma vez que esse total significaria a despromoção em 27 das 29 temporadas disputadas no atual formato, a equipa foi acusada de sorte. E é certo que houve um elemento fortuito - a fraca campanha dos três recém-promovidos ajudou bastante -, ainda assim, na reta final de 2023/24, os dados estatísticos (mais que os resultados) já mostravam sinais de melhorias sob o comando do português Nuno Espírito Santo.

Ao fim de três meses, o Forest está nos lugares cimeiros da tabela e é uma das grandes surpresas da nova temporada. Mesmo tendo perdido o último jogo, ocupa o quinto lugar com os mesmos 19 pontos que Arsenal (4º) e Chelsea (3º), assumiu-se como a segunda melhor defesa em prova, e parece determinado a assumir-se novamente entre os gigantes ingleses. Estes foram os fatores para a revolução...

Problemas identificados e corrigidos

O primeiro passo na direção certa foi o abrandar do surreal número de contratações (44 jogadores recrutados nas duas primeiras temporadas no regresso ao primeiro escalão). Essa foi uma mudança fundamental na filosofia.

A grande revelação de 2024/25 no futebol inglês @Getty /
Falamos, ainda assim, da megalómana Premier League, pelo que o investimento em jogadores seria sempre uma ferramenta importante para o sucesso. Com a ajuda de Pedro Ferreira, que deixou o Benfica para chefiar o recrutamento dos ingleses, isso foi feito de uma forma mais sensível e as mudanças sentiram-se, principalmente, na defesa.

Um dos principais problemas da equipa era a tendência para sofrer nas bolas paradas defensivas - um máximo na última edição da Premier League -, mas esse foi praticamente erradicado com a contratação de Nikola Milenkovic à Fiorentina por 14,3M€. Além disso, o gigante sérvio formou com Murillo uma das parcerias mais seguras de Inglaterra, o que ajuda a explicar como é que apenas o líder Liverpool sofreu menos vezes.

A boa forma de Ola Aina e Álex Moreno também contribuiu para o fenómeno, mas o que realmente deu alívio aos adeptos foi algo que chegou a parecer impossível: estabilidade na baliza. Depois do fracasso de Dean Henderson, Wayne Hennessey, Keylor Navas, Matt Turner e Odysseas Vlachodimos (!!!), eis que o belga Matz Sels conseguiu apagar o fogo e agarrar o lugar. Valeu um treinador que bem conhece a posição.

Forest em transição para Wood

Podia ser um lamento em relação à desflorestação, mas não é tão sério assim. É simplesmente uma forma de descrever rapidamente o processo ofensivo dos tricky trees, uma vez que ninguém chega aos lugares de topo da tabela só com uma boa defesa.

O destaque individual da equipa @Getty /
«Rapidamente». É mesmo essa a palavra. Com jogadores como Hudson-Odoi e Elanga nas alas (Jota Silva o suplente), o objetivo de Nuno Espírito Santo parece ser levar a bola para o último terço da forma mais célere possível. Até os médios são especialistas nessa progressão, ora no passe, no caso do criativo Gibbs-White, ou na condução, como acontece com Elliot Anderson, médio que custou mais de 40 milhões de euros.

A grande figura é Chris Wood, que com oito golos é o segundo melhor marcador da Premier League, só atrás de Haaland, mas o trintão neozelandês não faz mais do que ocupar uma posição central e finalizar as jogadas desta equipa. Um ponta de lança que em outubro se tornou o primeiro jogador do Forest a vencer o prémio de melhor do mês na prova, mesmo interpretando a sua posição da forma mais old school.

Os 500 de um treinador ambicioso

O futebol costuma ser morbífico para ligeiros casos de amnésia e foi por isso que a notícia de que Nuno Espírito Santo iria assumir o comando técnico do Nottingham Forest foi encarada com indiferença e desilusão, em oposição a entusiasmo. Quiçá uma amnésia seletiva, já que muitos adeptos preferiram lembrar os 17 jogos do português ao leme do Tottenham em vez da brilhante passagem pelo Wolverhampton, onde subiu de divisão e terminou por duas vezes em sétimo lugar no escalão de topo.

< class="twitter-tweet">

Nuno Espírio Santo completou 5⃣ 0⃣ 0⃣ jogos como treinador:
Estreou-se em 2012, pelo Rio Ave
Orientou 7 clubes
Clube que + vezes orientou: Wolves (199)
48% de vitórias
3 títulos
Tem quase o dobro de jogos dos que realizou como jogador (261) pic.twitter.com/a4bFrfL0VB

— Playmaker (@playmaker_PT) November 13, 2024</