Vítor Roque não fora substituído há muito tempo, mas a imagem que captou o avançado pouco depois de ter saído de campo foi sintomática. Impávido, sereno, sem grande emoção, vendo faltas e paragens sucessivas no desafio enquanto tentava refrescar-se, sentado ao pé de uma enorme ventoinha que procurava amenizar o calor do início de tarde em Filadélfia. Era como se o jogador do Palmeiras estivesse a representar quem estava a assitir à partida.

Quando se deu a pausa para hidratação no primeiro tempo, o realizador, como é hábito, puxou a fita atrás e foi buscar os melhores momentos do jogo. E o que apareceu? Faltas, choques, conflitos, rasteiras, cartões amarelos. Era, na verdade, o espelho do que se passava no relvado.

Primeiros 30 minutos. Choques aparatosos e paragens prolongadas: quatro. Remates enquadrados com qualquer das balizas: zero.

Nem três minutos haviam decorrido e já Barboza havia protagonizado uma muito dura entrada, obrigando Richard Ríos a receber assistência média. Foi um prenúncio do que seria o tom dos oitavos de final no Lincoln Financial Field.

Após 120 minutos, mais prolongados descontos, o terreno de jogo não parecia bem uma arena de futebol. Era mais um espaço de briga, de gente pedindo assistência, de protestos. Houve 31 faltas e sete remates às balizas; houve 12 amarelos, um vermelho e muito escassas ocasiões de golo.

A maior parte do jogo caracterizou-se pelas constantes paragens
A maior parte do jogo caracterizou-se pelas constantes paragens Elsa - FIFA

A chave para decidir os oitavos de final entre o Palmeiras e o Botafogo, a resolução para a cimeira de técnicos portugueses entre Abel Ferreira e Renato Paiva, estava nos pés de Paulinho. Abel pode dar-se ao luxo de ter artistas que custaram €18 milhões no banco, lançando-os no segundo tempo.

O extremo, aos 100', fez uma ação que parecia pertencer a outro cenário, a um contexto diferente. Veio para dentro, fintou, rematou suavemente, com a bola a superar Barboza, Luighi e John Victor, o guardião que estava a realizar uma excelente exibição.

Antes e depois da arte de Paulinho, a tarde perdeu-se entre faltas e mais faltas. Até quando havia aproximações de relativo perigo, essas baseavam-se mais no acaso, no ir avançando de ressalto em ressalto, do que o futebol ligado, como sucedeu com Marlon Freitas perto do descanso.

Estêvão, aberto na esquerda, dava (ligeiras) notas de criatividade, mas Abel surpreendeu ao tirar o futuro reforço do Chelsea bem cedo, aos 63'. Ainda assim, o Palmeiras foi sempre mais perigoso. Richard Ríos atirou a dar sensação de golo, Maurício e Estêvão obrigaram John a aplicar-se.

O golo de Paulinho
O golo de Paulinho Jonathan Moscrop

A imagem do jogo era Barboza. O comandante da defesa do Botafogo parecia mais confortável em agarrões e puxões do que em ter a bola nos pés, tanto que, a dada altura que a teve perto da linha lateral, limitou-se a jogar para fora.

Richard Ríos voltou a ser o motor do conjunto de Abel Ferreira. Começou nos pés do colombiano o 1-0, jogada que foi transformada em Paulinho no acesso aos quartos de final.

Depois do 1-0, o Botafogo lançou-se em busca do empate. Só aos 115' a equipa de Renato Paiva teve uma verdadeira oportunidade, com Vitinha, muito bem servido por Montoro, a atirar ao lado.

A tarde começou com Barboza em artes marciais e terminou de forma semelhante. Aos 116' deste longo encontro, Gómez e Barboza envolveram-se num lance que foi mais judo do que futebol. Vermelho para o paraguaio, num dos seis cartões que houve só no prolongamento. O Palmeiras de Abel sobreviveu ao conflito e poderá perseguir mais história com o português mais marcante dos bancos do Brasil ao comando.