Javi García, antigo médio-defensivo, representou o Benfica enquanto jogador entre 2009 e 2012, ganhou o campeonato de 2009/10 (fez 132 jogos e marcou 14 golos com a camisola dos encarnados) e voltou ao clube das águias em 2022/23, depois de terminar a carreira nos relvados, para desempenhar funções técnicas na equipa de Roger Schmidt.

O espanhol saiu do Benfica em 2024 e deu, esta segunda-feira, uma entrevista ao Canal 11, no programa Futebol Total, na qual abordou vários temas. O Benfica foi, claro, tema central.

Javi vive em Portugal. «A decisão foi conjunta com a minha mulher, adoramos, Lisboa é a nossa segunda cidade e decidimos vir morar para cá», contou, no arranque da conversa.

«As últimas épocas como jogador foram um pouco complicadas, levava muitos problemas para casa e quase nunca ficava contente com as minhas exibições, mas queria vir para Portugal, apareceu a oportunidade do Boavista [onde terminou a carreira], e decidimos que continuava. Nunca voltava a ver os meus jogos, porque, para mim, quase nunca jogava bem [...] O futebol não é só domingo, os jogos, são todos os dias a competir com os teus colegas e contigo próprio. Ia para casa e não conseguia muitas vezes desligar.»

Levava muitos problemas para casa e quase nunca ficava contente com as minhas exibições

«Quando joguei no Benfica o balneário era excelente, tinha muita gente jovem e era um ambiente muito bom, desfrutava», recorda.

Adjunto no Benfica

«Foi uma surpresa, o Benfica ligou para mim, falaram que era opção para entrar na equipa técnica. Para mim era um prazer, nem pensei um segundo, a minha resposta foi sim e foram duas épocas espectaculares. Uma experiência nova, ser treinador é uma história diferente de jogador. É muito complicado. Como jogador só cuidas de ti, como treinador tens de pensar em 30 pessoas. É complicado, mas adorei a experiência e vou tentar ser treinador.»

Não conhecia Roger Schmidt

«Não conhecia Roger Schmidt, falamos e foi tudo extraordinário, como pessoa é espectacular [...] Tinha a responsabilidade de treinar as bolas paradas, mas falamos como equipa e era uma decisão conjunta. Via ofensivamente onde podíamos fazer dano, fazer golo. Defensivamente o mesmo, analisar onde o rival era forte e falar com os jogadores para ter cuidado [...] a última época no Benfica foi muito exigente, estava a tirar o curso de treinador em Espanha, foi um bocadinho loucura, nas folgas ia para Madrid. Decidi seguir meu caminho.»

Di María e Otamendi

«Tenho uma relação muito boa com Ángel, já a tínhamos de quando éramos companheiros a jogar. Ver um jogador que ganhou tudo e a fome que ele tem em cada jogo e treino, é algo incrível. Ángel, não sei até quando vai jogar, mas tem essa fome todos os dias por competir [...] Para mim, jogava sempre no Benfica. Ter um jogador como ele é para jogar, está a fazer golos, assistências. Para mim, Di María tem de jogar sempre. Otamendi é a mesma mentalidade. Ter jogadores como ele é espectacular. É muito importante ter jogadores assim no balneário. Depois há o segredo do treinador, para não ficarem chateados, entrar na cabeça desses jogadores, e tentar que o discurso seja para que não fiquem chateados quando não jogam.»

Jorge Jesus

«O treinador que mais me marcou foi Jorge Jesus, conseguiu tirar o melhor de mim, e de muitos companheiros. Naquela altura estava muito à frente dos outros, taticamente. Ia ao detalhe com cada jogador e tudo o que ele dizia que ia acontecer, acontecia no jogo, era incrível. Lembro-me de falar com Aimar, Saviola e dizer... 'como é possível que ele veja isso'. Tinha linhas totalmente perfeitas na defesa, muitas linhas! Era tão perfeito e quando mostrava na televisão víamos isso. Na formação do Real Madrid sempre joguei a 8 e quando cheguei o JJ tinha claro que tinha de ser o 6, o trinco. Foi muito positivo, mas também me tirou um bocadinho da parte ofensiva que tinha. Quando saí do Benfica [para o Manchester City, em 2012/13] senti um pouco falta disso.»

«O Manchester City estava a começar este projeto, o dono tinha chegado há dois ou três anos, estava tudo a mudar. A nível de clube e infraestruturas, o Benfica estava à frente, mas era a ilusão de poder jogar em estádios onde eu vi grandes jogadores. Isso era algo que eu quis muito fazer», disse sobre a mudança para Inglaterra.