«Temos que abater o gigante polvo verde que existe ainda no atletismo nacional», afirmou Ana Oliveira, coordenadora do atletismo do Benfica, à BTV, mesmo sabendo da dureza e impacto que a polémica frase possa ter, para explicar e justificar a razão da ausência das águias no primeiro lugar do pódio na cerimónia masculina da entrega do troféu nos Nacionais de pista coberta, que decorreram em Leiria no passado fim de semana.
Competição que, desde sábado, levantou o protesto dos encarnados por ter sido permitido que um atleta do Sporting, João Coelho, pudesse ser substituído para a prova dos 400m depois de já estar na fase de aquecimento, tendo entrado para o seu lugar Omar Elkhatib. Proteste que foi aceite pelo juiz árbitro do campeonato mas que uma júri de apelas acabaria por anular.
Além de fazer um balanço positivo da participação na prova que deu o 13.º título masculinos às águias em 15 anos – nos femininos venceu o Sporting, pela 30.ª ocasião, com mais 3 pontos do que as águias -, a antiga internacional portuguesa apontou as baterias ao rival lisboeta, a uma situação que diz ser recorrente e nem mesmo a região do país onde a competição decorreu foi poupada.
«Antes queria começar por dizer que isto nada tem a ver com o presidente da federação, que é novo neste cargo e tem feito um trabalho excepcional. Penso que tem ainda muito trabalho para modificar ao longo do seu mandato. Portanto, o Domingos Castro, isto nada tem a ver com ele, mas era importante, uma vez por todas, também ajudá-lo a perceber o que é que de menos bom continua a acontecer no atletismo em Portugal», fez questão de começar por ressalvar a também coordenadora do Projeto Olímpico do clube.
«Às vezes nem consigo saborear bem estas vitórias, que são muitas e contínuas do Benfica, porque há sempre uma história triste. Vou usar uma palavra muito forte, é uma mensagem para o presidente da federação, de uma vez por todas, temos que abater o gigante polvo verde que existe ainda no atletismo nacional. E por incrível que pareça, até a taça seria verde», desabafou.
«Somos de uma modalidade extremamente objetiva, existem regulamentos, regras, extremamente diretas, todas as devemos conhecer. Preparamos estes campeonatos com reuniões com o delegado técnico, com a organização, na quinta-feira anterior. Os regulamentos referem-se e reagem-se aos regulamentos dos gerais de competição da federação, que por sua vez também são os mesmos da Federação Internacional. Esta competição tem muitos casos omissos, portanto é um novo indivíduo que faz o regulamento», começa por situar o tempo .
«Questionámos todos os casos que são os mais críticos, mais duvidosos, mas que são conhecidos em termos de regras. E um dos casos que é omisso, que muitas vezes cria confusão, é a situação das substituições. E é claro que quando o atleta entra na boxe de preparação, é como se fosse no futebol o túnel para o relevado, já não pode haver substituições. Reparámos que um atleta do Sporting tinha sido substituído nesse período, questionámos o delegado técnico, Jorge Salcedo, ele confirmou a situação e naturalmente desclassificou o atleta», vai contando.
«Por incrível que pareça, também temos um VAR, que chamamos júri de apelo, que normalmente deve ser anunciado e partilhado com os clubes antes da competição, mas naquele caso não foi. Criou-se ali um júri à pressa», revela. «Questionámos como é a substituição do atleta, não pode... o que interessa aqui é que há uma entidade máxima que regula esta competição que fez cumprir o regulamento ao desclassificar o atleta do Sporting e depois um júri improvisado ali criado à pressa, voltou a qualifica-lo. Reverteu a decisão, o que é extremamente grave para a credibilidade da federação, para a credibilidade do próprio juiz Jorge Salcedo, mundialmente referenciado e conhecido», reforça.
«Nunca ganhámos um protesto. O pisar a linha para nós é motivo de desclassificação, para o outro clube não é. Acima de tudo, penso que a nossa posição foi uma mensagem. Custou-nos muito não ir ao pódio, estávamos em alegria. Muitos dos jovens que estavam lá, seria a primeira vez com a camisola do Benfica... Mas penso que foi importante passar uma mensagem de que nem tudo está bem nesta modalidade. E repito, sei que o presidente Domingos Castro está outra vez na missão de restituir o verdadeiro lugar desta modalidade ao panorama nacional e internacional».
«Não podemos continuar a ter estas situações permanentemente. De uma vez por todas, o Benfica também tem que mostrar a sua atitude. Não queremos ser beneficiados, não queremos que os regulamentos mudem, apenas que sejam transparentes, claros e que haja uma autoridade que possa fazer com que sejam cumpridos igual para todos», justifica.
E então, antes de terminar, Ana Oliveira deixa outra acusação. «É evidente que isto acontece com a arbitragem em Portugal, mas não no país todo. Acontece especificamente numa zona central do país, no distrito de Leiria, onde muitas influências estão controladas e assumidas. Infelizmente, não temos pista coberta em Lisboa e é sempre em Leiria que vamos competir, portanto, o drama é contínuo. Espero que esta nossa atitude seja uma mensagem, não para prejudicar ou não, mas para salvaguardar o nosso trabalho», completou.