O râguebi português precisa de “um estádio” próprio e “uma equipa profissional” para se manter entre a ‘elite’ da modalidade, definiu o presidente da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR), após assegurar o apuramento para o próximo Mundial, onde quer ver a seleção a fazer melhor do que na participação anterior - e ganhar, pelo menos, dois jogos.

Para que tal seja possível, Carlos Amado da Silva estima que a entidade precise de “mais 500 mil euros” anuais de apoio do Estado, calculou o presidente da Federação Portuguesa de Rugby (FPR).

“[Vamos] para ganhar pelo menos dois jogos. É esse o objetivo e vamos ganhar dois jogos”, traçou Carlos Amado da Silva, em declarações à agência Lusa, após a seleção portuguesa assegurar o apuramento, no domingo.

“Muito satisfeito pelo grupo”, que “merece isto e muito mais”, o líder da FPR lembrou, no entanto, que o organismo que dirige teve “um prejuízo de 500 mil euros no Mundial” de França2023 e, por isso, deixou esse apelo ao Governo.

“É evidente que vamos precisar de pelo menos mais 500 mil euros”, estimou.

Relativamente às contas do último Mundial, Amado da Silva explicou que a FPR já recuperou “alguma coisa” com o apoio dos patrocinadores, mas faltam “350 mil euros” que pagou “de salários aos jogadores” não profissionais e que, por isso, ainda não conseguiu “equilibrar as contas”.

A FPR está mesmo “em sérias dificuldades” para suportar os custos da viagem à Roménia, para onde os ‘Lobos’ partem na terça-feira, para disputarem, no domingo, a terceira jornada do Rugby Europe Championship 2025 (REC25).

“Não é justo que isto aconteça, nós merecemos muito mais. Não estamos a pedir prémios de presença, nada disso. [É para] pagar os salários, que é aquilo a que eles têm direito e nós estamos a pagar. Além de uma preparação condigna, que se justifica mais do que nunca. Vamos ter dois anos para nos prepararmos [para o Austrália2027], precisamos de meios”, apelou.

Contas feitas, Amado da Silva estima que a FPR precise de um apoio anual de “dois milhões de euros da parte do Estado”, valor que “não é nada de extraordinário”.

“Eu percebo que há mais modalidades, mas pergunto: quantas há que tenham ido ao Mundial duas vezes consecutivas, como nós estamos a ir?”, questionou.

Segundo o dirigente, que cumpre o segundo mandato à frente da FPR, o apoio do Estado português é “sensivelmente o mesmo que tinha há 10 anos”, numa altura em que “nem sequer competia no feminino”.

Mas, hoje em dia, tem de dar resposta também “aos diversos escalões de formação do râguebi masculino e feminino, para além das seleções de ‘sevens’”, pelo que a FPR “não pode ter um orçamento inferior a 4 milhões de euros” e se o Estado “suportar 30%, é razoável”.

Faltam infraestruturas - incluindo camas para matulões

Este ano, como em muitos encontros realizados em 2024, a seleção nacional sediou os seus jogos no Estádio do Restelo, em Lisboa, mas costuma treinar no Complexo Desportivo do Jamor, em Oeiras. “Precisamos de um estádio onde possamos meter os nossos jogadores a trabalhar normalmente, nas nossas academias”, apontou Carlos Amado da Silva, em declarações à agência Lusa.

O dirigente adiantou que “o projeto está feito”, terá um custo “à volta de 15 milhões de euros” e terá “o apoio das câmaras municipais de Lisboa e de Oeiras”, mas também “de uma empresa privada” que é patrocinadora do organismo e “pretende assegurar o ‘naming’”.

A infraestrutura, prevista para o local onde se situa atualmente o Campo A do Centro de Alto Rendimento de râguebi do Jamor, terá capacidade “para oito mil pessoas”, sensivelmente o número de espetadores que, no domingo, assistiram, no Estádio do Restelo, em Lisboa, ao triunfo sobre a Alemanha (56-14), que assegurou o apuramento luso para o Mundial2027.

Ajudará, também, a FPR a reduzir custos com estadias de jogadores, nas quais são gastos “cerca de 300 mil euros por ano em hotéis”.

“E não temos alternativa. O Centro de Alto Rendimento do Estádio Nacional não serve. Um miúdo de 1,90 metros não cabe naquelas camas”, exemplificou Amado da Silva.

Por isso, o projeto prevê, para além da cobertura, “um centro de estágios” com a criação de quartos e demais infraestruturas “por baixo das novas bancadas” que será “disponibilizado às outras modalidades quando não tiver ocupação com o râguebi”.

Por outro lado, Amado da Silva insiste na necessidade de profissionalizar os Lusitanos XV, equipa de franquia da responsabilidade da FPR que disputa a Rugby Europe Super Cup contra outras franquias europeias.

“Nós temos de ter uma equipa profissional em Portugal para [os jogadores] estarem ao nível dos que vêm de França. O que é que aconteceu na Geórgia? No Uruguai? Na Argentina? Porque é que subiram muito? Porque têm uma equipa semiprofissional, pelo menos. Nós precisamos de uns Lusitanos XV profissionais”, apontou.

Isso ajudaria, segundo o líder da FPR, a encurtar diferenças entre os jogadores que jogam em Portugal e os que vêm de França, o que contribuiria para mitigar o pouco tempo de trabalho que os dois grupos conseguem fazer conjuntamente.

“Eles são profissionais, os clubes pagam-lhes, só vêm quando são obrigados a vir. E, mesmo assim, têm dificuldades. Portanto, temos de ter uma equipa forte em Portugal, como os Lusitanos XV, que compita sistematicamente lá fora e jogue cá [os jogadores], esporadicamente, [pelos clubes nacionais] nas fases finais dos campeonatos”, justificou.

Portugal apurou-se no domingo para o Mundial de râguebi Austrália2027, após vencer a Alemanha, por 56-14, resultado que assegurou, pelo menos, um dos dois primeiros lugares no Grupo B do REC25 e o consequente apuramento direto para a competição.

Esta será a terceira presença dos ‘Lobos’ em 11 edições da maior competição internacional da modalidade, que se disputa de quatro em quatro anos, desde 1987.

O próximo Campeonato do Mundo vai ser realizado entre 1 de outubro e 13 de novembro de 2027, na Austrália.

Para além de Portugal, também Roménia, Geórgia e Espanha já estão apuradas na zona europeia, juntando-se aos três primeiros classificados de cada grupo do Mundial anterior, em França2023: França, Nova Zelândia, Itália, Irlanda, África do Sul, Escócia, País de Gales, Fiji, Austrália, Inglaterra, Argentina e Japão.