
Começam a faltar palavras para avaliar a qualidade suprema de Rodrigo Mora, 18 anos ainda por fazer. Dois golaços do menino garantiram ao FC Porto uma noite, pelo menos, no terceiro lugar da classificação. Pelo que se vai vendo semana após semana (lembram-se do jogo com o Casa Pia?), estamos perante uma verdadeira parábola sobre a forma como um colosso chamado FC Porto anda, literalmente ao colo do seu número 86.
Palavra especial merece, igualmente, um Famalicão que procura a melhor classificação da sua história na Liga principal: mesmo com os dois golpes profundos nascidos da qualidade de Rodrigo Mora, a equipa de Hugo Oliveira esteve sempre dentro do jogo e terminou-o em busca de um empate que chegou a parecer possível e enervou as bancadas do Dragão.
Entrou mais impositivo o FC Porto, procurando encostar o Famalicão ao seu meio-campo. No período inicial conseguiu até alguns cantos e mostrava autoridade, mas foi sol de pouca dura. Cerca dos dez minutos os visitantes equilibraram-se do choque inicial relativamente forte e começaram a encontrar formas de esticar o jogo, também, para o meio-campo contrário.
Andava a partida num tu cá-tu lá mais ou menos entretido, porém sem aproximações de maior às balizas, quando surgiu a magia de Rodrigo Mora, que já se vai tornando habitual e expectável. Francisco Moura (mais uma assistência) encontrou-o dentro da área aos 20 minutos. O menino pegou na bola e, bailando e rebailando sobre três adversários, encontrou espaço para o remate. Foi feliz, é certo, pela tabela na perna de Mijah, mas nada pode retirar o mérito de mais uma grande jogada e um grande golo de Mora.
O golo não desarmou o plano inicial de nenhuma das equipas: o Porto com a sua linha costumeira de três defesas, meio-campo a quatro e uma frente de ataque feita de um avançado em cunha — Deniz Gul — e dois jogadores muito mais móveis a percorrer os terrenos logo atrás do polaco — Mora, preferencialmente a partir da direita, e Pepê da esquerda. Quanto ao Famalicão, assumiu um 4x4x2 com Gustavo Sá colocado ao lado de Sejk, ainda que também a procurar mais vezes jogo em linhas recuadas.
Correu o marfim até ao intervalo com os principais momentos protagonizados por temates de longe de ambas as partes (Fábio Vieira e Pepê pelos da casa, este com tentativa de chapéu de meio do meio-campo a Carevic, que tinha saído da área; Sorriso e Aranda pelo Famalicão, que de resto quase nunca conseguiu entrar na área portista em condições de atrapalhar verdadeiramente Diogo Costa.
Na segunda parte a toada manteve-se e só foi preciso esperar 12 minutos para o Dragão explodir de novo e render-se à qualidade de Mora. Bola de novo na área, agora pelo lado direito. Rodrigo olhou, enganou o defesa, e desta vez aplicou um remate colocadíssimo de pé esquerdo. Faz sentido: no primeiro golo, descaído para a esquerda, usara o direito. Aliás, tudo parece fazer sentido no futebol deste rapaz que faz lembrar a fisionomia e a ginga de João Vieira Pinto.
Perante a perceção de que o Famalicão não ia entregar-se, talvez não tenha feito especial sentido tirar o craque para os aplausos quando ainda havia um quarto de hora por jogar. Pouco depois, Pedro Bondo, entretanto entrado para lateral esquerdo, encontrou espaço para o que todos (resta saber se ele próprio também) esperavam ser um cruzamento. Acontece que a bola foi, foi, foi, sobrevooou Diogo Costa e só parou na baliza. Daí até final foi ver o Famalicão crescer e o FC Porto a tentar guardar os três preciosos pontos, algo que acabou por conseguir, no fim das contas com justiça.
Não há, como se sabe, parábolas sem conclusão. Moral desta história: o talento continuará, sempre, a fazer a diferença.