
À hora do silvo do Farense-FC Porto, em latitudes mais encimadas, começou também o velório de Jorge Nuno Pinto da Costa. O jogo dos dragões no Algarve pouco mais era do que a parte descentralizada das exéquias do ex-presidente dos azuis e brancos.
Pinto da Costa morreu, mas continuarão a existir 69 taças no museu do FC Porto às quais foram delegadas funções de representação na ausência do dirigente que as conquistou ao longo de 42 anos. Parte do clube perdeu-se, o que não significa que não se possa regenerar quando a saudade for embora.
Para já, o luto continua muito presente. Esteve no minuto de silêncio antes do jogo, nas braçadeiras negras nos braços esquerdos dos jogadores do FC Porto e nos olhos a lacrimejar nas bancadas. Esteve presente no som ambiente, no corpo, na alma.
A galvanização, em jeito de louvor, dos jogadores de Martín Anselmi foi mera especulação. A equipa foi incapaz de expressar a emotividade que envolve o clube. Podia-se pensar que a frieza fosse promotora de eficácia nas ações, mas nem por isso. Dir-se-ia que faltou algo que pode ter sido coração.
Começou por ser um FC Porto demasiado posicional, vítima de regras pré-estabelecidas e excesso de padrões. Anselmi até conjugou um bom conjunto de hipotéticos criativos. André Franco, Rodrigo Mora e Fábio Vieira, com Pepê impregnado no lado direito da defesa a cinco (onde Zé Pedro também foi novidade), não foram empreendedores suficientes na busca de soluções.
Num cacho em 5x2x3, o Farense conviveu com a estática circulação do FC Porto. Lançando-se com Paulo Victor pela esquerda ou rendilhando um pouco mais com Rony Lopes na direita, a equipa de Tozé Marreco teve oportunidades de sair em velocidade para o ataque. Yusupha até abanou a palmeira no topo da cabeça para acrobaticamente pontapear por cima da baliza de Diogo Costa. O aparatoso momento acabou anulado pelo árbitro.
O FC Porto teve dois engasgos dentro da área que a linha defensiva algarvia resolveu. Em ambos os casos, Fábio Vieira acabou desarmado pela própria demora. O intempestivo de Argoncilhe, mesmo assim, constrangia o Farense mais do que ninguém. Imagina-se que com carregada pronúncia do norte, barafustou com o árbitro e ridicularizou simulações estapafúrdias dos adversários, mandando-os levantar como se dele dependesse tal ação. Um reguila que não deixa nada por dizer.
O encaixado jogo tornou-se um duelo de duelos e o FC Porto superiorizou-se numa boa dose deles para que pudesse interromper o ciclo de cinco jornadas sem vencer. Sem que a constituição do onze assim o fizesse prever, lances aéreos próximos da baliza de Ricardo Velho levaram ao surgimento de oportunidades. A elevação de Deniz Gül fez a bola cair nos pés de Fábio Vieira que teve a melhor hipótese para os dragões marcarem na primeira parte. Depois, no início da segunda, um livre tenso batido pelo médio emprestado pelo Arsenal encontrou a cabeça de Francisco Moura, responsável pelo resultado mexer. Os processos rudimentares revelaram-se os mais produtivos.
Quando começou a ter espaço para jogar em transição contra um Farense que ainda não venceu em 2025 e luta pela permanência, o FC Porto conviveu com estímulos dos quais desfrutou mais. A influência de Fábio Vieira no centro-direita colou-se ao poste em novo momento de protagonismo. Na recarga, Rodrigo Mora saiu frustrado com uma finalização mais difícil do que imaginou ao ver a baliza escancarada.
Não fosse Diogo Costa, um dos mais imaginativos com bola, e o Farense teria chegado ao empate. Rui Costa e Cláudio Falcão foram barrados na fronteira da conquista de pontos, regalia plena dos dragões que, mesmo pouco preocupados com isso, ficaram a seis pontos do líder Sporting. Mais alarme causará a lesão de Vasco Sousa cuja entrada sofrida levou à expulsão de Zé Carlos e à saída de maca do médio formado no Olival.
Os adeptos do FC Porto encontraram em tudo razões para cantar o nome de Pinto da Costa. Fizeram-no no início do jogo, ao minuto 42, no golo de Moura e ao minuto 87. Haverá por certo devotos que o cantarão para sempre, mesmo em dias como o de hoje em que os foguetes de homenagem quase foram disparados antes da hora.