
‘Não há nada que te possa treinar para uma batalha a 360 km/h’, declarou Morbidelli, e nessa frase está a essência cruel e bela do MotoGP. Toda a preparação, toda a tecnologia, toda a ciência desportiva moderna – e no final, quando realmente importa, é o instinto que decide.
O piloto da VR46 foi questionado se as batalhas na terra batida do rancho de Valentino Rossi o ajudaram a preparar-se para momentos como este. A resposta foi reveladora: ‘Há poucas coisas que te podem ajudar a treinar para isso. Nesses momentos, ages realmente por instinto.’
Aqui reside uma das grandes ironias do desporto motorizado moderno. Gastam-se milhões em simuladores, análise de dados, preparação física e mental. Mas quando duas máquinas de 250 cavalos se tocam a mais de 360 km/h, com pneus gastos, na última volta, tudo se resume a algo primitivo: instinto.
‘Depende de ser humano para ser humano’, acrescentou Morbidelli, tocando numa verdade que transcende o desporto. No final, por debaixo de todos os capacetes, fatos de couro e tecnologia, estão apenas seres humanos a tomar decisões em fracções de segundo que podem determinar o resto das suas vidas.
O sumo desta reflexão é perturbador e fascinante: no auge da sofisticação tecnológica, quando a humanidade cria máquinas capazes de velocidades inimagináveis, descobrimos que ainda dependemos do mais antigo dos nossos sistemas operacionais – o instinto de sobrevivência transformado em vontade de vencer.