O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, considerou esta quinta-feira que há uma oportunidade de paz no conflito causado pela invasão russa na Ucrânia, após uma reunião em Ancara com o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

"Ontem [quarta-feira] tive uma longa conversa telefónica com o Presidente russo [Vladimir Putin] e hoje, aqui em Ancara, encontrei-me com o Presidente da Turquia", disse Orbán num vídeo publicado na plataforma YouTube após o encontro.

O líder ultranacionalista, classificado como o melhor aliado de Putin na União Europeia (UE), disse que agora "há uma oportunidade para acabar com a guerra" e afirmou que o mais importante é que "todos na Europa", e especialmente os líderes em Bruxelas, percebam que "não há futuro para uma estratégia de guerra".

Orbán apelou para que a Europa trabalhe para "reforçar as capacidades de defesa da Europa e para construir uma nova arquitetura de segurança" com os seus vizinhos. "Há seis meses ninguém queria ouvir falar de paz, hoje toda a gente fala dela. Abrimos a porta e agora podemos iniciar as negociações. Esta é a maior conquista da presidência húngara da UE", afirmou o chefe do Governo húngaro.

A este respeito, recordou que, na última semana, no momento em que se aproxima o fim do mandato de seis meses da Hungria à frente do Conselho da UE, reuniu-se com o Papa Francisco, com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni (direita radical), e com o Presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump.

Por seu lado, Erdogan afirmou, em comunicado, que falou com Orbán sobre o seu desejo de cooperar com a UE na reconstrução da Síria.

Erdogan recebeu Orbán e o Presidente húngaro, Tamás Sulyok, no palácio presidencial em Ancara e falou com o chefe do executivo húngaro sobre questões bilaterais e regionais, de acordo com um comunicado divulgado pela presidência turca na rede social X. De acordo com o comunicado, Erdogan sublinhou também a necessidade de cooperar com a UE na luta contra o terrorismo, bem como na reconstrução da Síria e na reforma das instituições do país.

Um dos principais objetivos de Ancara na Síria é evitar que a transição política síria envolva a milícia curda YPG, que Ancara considera terrorista devido às suas ligações à guerrilha curda na Turquia.

Erdogan e Orbán também discutiram as relações bilaterais e, segundo a nota presidencial turca, prometeram aumentar o volume do comércio bilateral, que era de 3,9 mil milhões de dólares (equivalente a 3,7 mil milhões de euros) em 2023, para 6 mil milhões de dólares (cerca de 5,7 mil milhões de euros).

Viktor Orbán continua a cultivar a sua proximidade com o Kremlin (presidência russa), apesar das posições assumidas pela UE em relação à Rússia na sequência da invasão da Ucrânia. No início de julho, deslocou-se a Moscovo, afirmando que procurava uma solução diplomática para o conflito, sem consultar os seus parceiros da UE, gerando críticas da maioria dos Estados-membros.

Na conversa com Putin, na quarta-feira, Orbán abordou um cessar-fogo de Natal e uma troca de prisioneiros, acusando Kiev de rejeitar a oferta. Mas a Ucrânia negou ter discutido uma trégua com ele e condenou a sua iniciativa.

"Ninguém deve promover a sua própria imagem à custa da unidade", afirmou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. "Não pode haver discussão sobre a guerra que a Rússia está a travar contra a Ucrânia sem a Ucrânia", acrescentou numa mensagem na rede social X.

Por seu lado, o Kremlin afirmou que "apoia todos os esforços" de mediação em Budapeste. Na quarta-feira, "o lado russo entregou à embaixada húngara o seu pedido prévio de troca" de prisioneiros, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.

Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.