O presidente do Chega manifestou-se hoje disponível para negociar com o Governo a proposta de Orçamento do Estado para 2026, considerando que o ideal é não haver uma crise política, mas rejeitou ser "muleta" do executivo.

"O Chega não só está disposto [para negociar], como vai trazer para o Orçamento do Estado as suas propostas, as suas preocupações, e como entendemos que o ideal é que não haja uma crise política no Orçamento do Estado. Mas alguém quer outra crise política? Queremos ir a eleições outra vez em março ou em abril do próximo ano? O país agora vive para andar de eleições em eleições?", questionou André Ventura.

O líder do Chega falava aos jornalistas à margem de uma iniciativa na freguesia de Benfica, em Lisboa, acompanhado pelo candidato do partido à autarquia da capital, Bruno Mascarenhas.

Hoje, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, acusou o primeiro-ministro de normalizar a extrema-direita e de escolher o Chega como parceiro preferencial de governação, reagindo à entrevista de Luís Montenegro à Antena 1 na qual o chefe do executivo se manifestou surpreso com a ameaça do PS de romper com o Governo e considerou que o Chega "está a começar a mostrar" maior responsabilidade.

André Ventura criticou duramente o PS, acusando os socialistas de "pura infantilidade" e "criancice".

"Quando oiço José Luís Carneiro [líder do PS] dizer que afinal vai votar contra o Orçamento do Estado e que essa responsabilidade agora é do Chega, tudo certo, nós assumiremos essa responsabilidade e vamos dialogar para assumir essa responsabilidade em prol da estabilidade e do país", afirmou.

Apesar de se manifestar aberto a dialogar com o executivo sobre este documento, que começa a ser debatido pelo parlamento em outubro, André Ventura salientou que em democracia "tem de haver alternativa" e rejeitou ser "muleta do Governo".

"Não podemos deixar de dizer que o PS é cada vez mais irrelevante no ponto de vista parlamentar, e este é um facto. O que acresce outro problema: se o PS é cada vez mais irrelevante, há uma alternativa ao PSD e essa alternativa é o Chega, e isso significa que o Chega também tem que se apresentar como alternativa e não como muleta do Governo", sustentou.

Interrogado sobre o facto de Luís Montenegro ter atribuído ao Chega uma postura de maior responsabilidade, Ventura disse não querer elogios, mas sim "trabalho".

"Eu não vivo nem dos elogios do primeiro-ministro, nem de nenhum político. Eu quero é trabalho, e quero que o primeiro-ministro mostre esse trabalho, e esse trabalho mostra-se cortando com o sistema, cortando com os carreirismos e cortando com os tachos. É assim que se faz, eu prefiro menos elogios e mais trabalho", disse.

Ventura salientou que o líder do executivo "sabe qual é a aritmética parlamentar" e "quais as contas que têm de ser feitas no parlamento" e disse não precisar "nem de ego nem de suporte".

O líder do Chega considerou ainda que o secretário-geral do PS tem feito "uma figura triste" ao enviar cartas ao primeiro-ministro sobre temas como a Defesa ou saúde, e criticou que José Luís Carneiro tenha anunciado que esta semana vai apresentar várias propostas para resolver a crise da habitação depois de o PS ter estado à frente do Governo durante oito anos.

Neste âmbito, André Ventura propôs o lançamento de "um grande programa de fiscalização sobre a habitação social" para garantir que "só tem habitação social quem efetivamente precisa" e "quem não precisa é despejado".

"Se isto fosse feito há mais tempo, talvez as pessoas que estão em barracas, talvez, não digo todas, já estivessem em casas da câmara", salientou, numa referência aos despejos nos concelhos de Loures e Amadora.

"Este é o exemplo de como pode haver diálogo entre o Chega e o PSD sem que o líder da oposição deixe de ser líder da oposição e sem que o primeiro-ministro deixe de ser primeiro-ministro", advogou.