Os dez arguidos acusados dos crimes de ofensas à integridade física agravada na forma tentada, injúria agravada, ameaça agravada e dano qualificado na forma consumada estiveram todos presentes na sala do Tribunal Central Criminal de Lisboa, mas apenas quatro quiseram prestar declarações nesta fase inicial do julgamento.

Os arguidos Luís Filipe e Jorge Torres falaram sobre o episódio que envolveu o antigo presidente da Assembleia da República, a 11 de setembro de 2021, junto à Assembleia da República. O primeiro negou qualquer insulto a Ferro Rodrigues, tendo dito que apenas gritou "respeito" e que o seu objetivo foi sempre proteger Ferro Rodrigues quando esteve saiu do restaurante onde estava com a mulher.

O segundo arguido, Jorge Torres, admitiu que chamou "pedófilo" e "genocida" a Ferro Rodrigues, mas não se lembra de ter dito as palavras "assassino" e "canalha". "No calor da situação, somos levados a chamar expressões. Vacinar crianças é um ato genocida", disse em tribunal esta manhã.

Os últimos dois arguidos, Maria Inês Ribeiro e Pedro Ribeiro, falaram sobre o episódio que envolveu Henrique Gouveia e Melo, que na altura, em 2021, era o coordenador da 'task force' do plano de vacinação contra a covid-19. Maria Inês Ribeiro assumiu alguns dos factos que constam na acusação e negou outros.

"Chamei assassino, porque quem mata é um assassino. Não tenho por hábito usar essas palavras e foi a força de expressão em relação ao que pensava e sentia. Sou inocente da acusação que me é feita de agredir e tentar agredir", disse, acrescentando desconhecer que, naquele dia em que se manifestava junto ao centro de vacinação de Odivelas, Henrique Gouveia e Melo iria estar presente.

Já Pedro Ribeiro, cujas declarações foram interrompidas pela hora de almoço, disse ao coletivo de juízes liderado pela juíza Sandra Carneiro que esteve no centro de vacinação de Odivelas, mas que apenas gritou "capitão iglo paga-me um shot", dirigindo-se a Gouveia e Melo, uma vez que estava a ser promovida uma festa no âmbito da campanha da vacinação.

O processo chega agora a julgamento, depois de o Tribunal Central de Instrução de Lisboa ter decidido, em dezembro de 2024, que existiam indícios suficientes para julgamento de dez dos 12 constituídos arguidos pelo Ministério Público pelos crimes de ofensas à integridade física agravada na forma tentada, injúria agravada, ameaça agravada e dano qualificado na forma consumada.

De acordo com a acusação, em causa estão episódios que aconteceram durante a pandemia - um deles em agosto de 2021, quando os manifestantes negacionistas gritaram "assassino" e "genocida" contra Gouveia e Melo, então coordenador da 'task force' do plano de vacinação contra a covid-19, junto ao centro de vacinação em Odivelas, e o outro aconteceu um mês depois, junto ao parlamento, quando chamaram "pedófilo" e "nojento" a Ferro Rodrigues, quando este se deslocava a pé com a mulher para almoçar num restaurante nas imediações.

O Ministério Público constituiu doze arguidos, mas alguns pediram a abertura de instrução e a juíza Sofia Marinho Pires decidiu não pronunciar dois dos arguidos, que estavam acusados de um crime de ofensas à integridade física qualificada, na forma tentada, contra o então almirante Gouveia e Melo.

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