As pessoas mais religiosas e com ideologias políticas de direita são mais propensas a aceitar tratamentos alternativos, bem como mais suscetíveis a aceitar teorias da conspiração e desinformação sobre saúde, concluiu um estudo da investigadora Catarina Santos.

Em entrevista à agência Lusa, a investigadora do ISCTE e autora do estudo "O papel das crenças conspiracionistas e pseudocientíficas na previsão da adesão a tratamentos alternativos", afirmou que "as pessoas mais religiosas e que são de direita são mais propensas a aceitar tratamentos alternativos (...) portanto há traços de personalidade que podem levar as pessoas a ser mais propensas a aceitar teorias da conspiração".

Catarina Santos começa por explicar que a pseudociência é tudo o que "sob a capa da credibilidade da ciência, vende coisas que não têm prova científica, sejam elas tratamentos ou pseudo medicamentos, que acabam por querer tomar o lugar dos procedimentos científicos já estabelecidos".

Neste sentido, "a pseudociência, um tipo específico de desinformação, abrange uma série de áreas da saúde, tendo a grande marca de afastar as pessoas dos tratamentos que são, efetivamente, eficazes para as questões que as assolam".

"A desinformação em saúde é tudo o que leva as pessoas a pensar que sabem algo sobre um determinado assunto, baseado em factos que não existem ou em crenças que não são realistas e não [são] verdadeiras", afirmou a académica.

Ademais, a investigadora detalhou que "a informação que é transmitida pode ser verdadeira, no entanto, a forma como o indivíduo interpreta essa informação pode levar o próprio a estar desinformado", apontando a falta de sentido crítico e de literacia sobre os temas, como uma possível justificação.

"Há características individuais e pessoais que podem levar a uma maior tendência a crer na desinformação. As pessoas com menos literacia para uma determinada área têm uma maior tendência a crer na desinformação", acrescentou.

Em matéria da aceitação de desinformação em contexto de consulta médica, "as pessoas tendem a preferir os tratamentos convencionais aos alternativos", enquanto "uma pessoa que acredita numa teoria da conspiração tende a acreditar noutro tipo de coisas semelhantes", afirmou.

"As pessoas que pensam que sabem mais sobre as coisas são as que intuitivamente mais aderem [a estas teorias] porque não utilizam o seu espírito crítico (...) é a confiança que têm no seu conhecimento que as leva a aceitar coisas que não compreendem devidamente", explicou a investigadora.

Além disso, "se a informação é dada por um médico e se existe confiança na ciência, é normal aceitar melhor o tratamento convencional", sendo que o estudo desenvolvido pela académica concluiu que "as crenças conspiratórias e a falta confiança na ciência influenciam significativamente as decisões de tratamento. A abordagem destas crenças é crucial para combater a desinformação sobre saúde e incentivar a adesão a cuidados médicos baseados em provas", rematou.