O presidente da Comunidade Israelita do Porto (CIP) considerou este sábado que o luso-franco-israelita Ofer Caldero libertado é "um cidadão português genuíno".
"A libertação de Ofer Kalderon é a libertação de um cidadão português genuíno, de família sefardita tradicional do antigo Império Otomano, na Grécia, havendo registos desta família nas sinagogas e instituições portuguesas que existiam em Salónica: o 'Kahal Kadosh Portugal', o 'Kahal Kadosh Lisboa', o 'Kahal Kadosh Évora', o 'Portugal Velha' e outras", referiu Gabriel Senderowicz, numa resposta a um pedido da Lusa para comentar a entrega do refém pelo Hamas.
Num esclarecimento adicional, a CIP refere que foi a responsável pelo atestado de origens sefarditas que permitiu a atribuição da nacionalidade a Ofer Calderon. Para Gabriel Senderowicz, "é importante a explicação da origem da pessoa, para não ser tomado por um português de segunda classe".
O refém com cidadania portuguesa estava entre os três prisioneiros do Hamas entregues este sábado às autoridades israelitas, no âmbito do acordo de cessar-fogo. Ofer Calderon, 54 anos, obteve a nacionalidade portuguesa, pela sua origem sefardita, depois de ter sido feito refém, a 07 de outubro de 2023, disse à Lusa o advogado, José Ribeiro e Castro, que submeteu então ao Governo um pedido de urgência por razões humanitárias na análise do seu processo, conseguindo que a Conservatória dos Registos Centrais emitisse a certidão de nascimento, confirmando a dupla nacionalidade do franco-israelita.
Filhos foram libertados em novembro, pouco mais de um mês após o ataque do Hamas
Segundo os 'media' israelitas, Ofer Calderon estava no Kibutz Nir Oz, atacado a 07 de outubro de 2023, matando mais de 100 residentes, 15 trabalhadores agrícolas estrangeiros e capturando cerca de 80 reféns. Calderon, juntamente com Erez e Sahar, dois dos seus quatro filhos, fugiram inicialmente do seu abrigo pela janela durante o ataque do Hamas, para os campos, onde mais tarde foram capturados.
Sahar Calderon, 16 anos, e Erez Calderon, 12 anos, foram libertados em 27 de novembro no âmbito de um acordo de cessar-fogo temporário entre o Hamas e Israel, mediado pelo Qatar e pelos Estados Unidos.
Segundo o jornal Times de Israel, Hadas Calderon, a ex-mulher de Ofer, estava no quarto fechado da sua casa no kibutz, segurando a maçaneta da porta contra os atacantes.
O seu filho mais velho, Rotem, de 19 anos, também sobreviveu no quarto do seu apartamento, na zona mais jovem do kibutz, enquanto a sua irmã mais velha, Gaya, de 21 anos, estava em Telavive. A mãe e uma sobrinha de Hadas Calderon foram mortas no ataque, os seus corpos foram encontrados a 19 de outubro.
A mulher do luso-franco-israelita esteve em frente ao Ministério da Defesa durante dias até que os seus dois filhos fossem libertados, e os membros da família continuaram a mobilizar-se para obter a libertação de Ofer Calderon, que agora sucedeu.
Este sábado, o Governo português saudou a libertação de refém Ofer Calderon, com nacionalidade portuguesa, esperando que a sua entrega pelo Hamas constitua "mais um passo para a paz".
Numa nota enviada à Lusa, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, escreveu que o "Governo português saúda a libertação de mais três reféns e, muito em especial, a do também nacional português Ofer Calderon".
Em reação à libertação do luso-franco-israelita, o Presidente francês, Emmanuel Macron, publicouno X que partilhava "o imenso alívio e alegria" dos familiares, "após 483 dias de um inferno inimaginável".
Além de Ofer Carlderon, entregue no sul de Gaza pelo Hamas à Cruz Vermelha juntamente com Yarden Bibas, a meio da madrugada deste sábado, o israelo-americano Keith Siegel também foi libertado no porto do norte da cidade de Gaza.
Desde o início das tréguas, a 19 de janeiro, foram libertados 15 reféns em troca de centenas de prisioneiros palestinianos detidos em Israel. Um total de 33 reféns israelitas deverão ser libertados em troca de quase dois mil prisioneiros palestinianos durante as seis semanas iniciais da trégua. Israel diz ter recebido informações do Hamas de que oito dos reféns foram mortos no ataque do Hamas, ou morreram mais tarde, já em cativeiro.