A cultura é uma das áreas que a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKND, na sigla em inglês) tem vindo a apoiar em 30 países, incluindo Portugal, com aquisição de obras de arte para museus e restauro de património cultural.

Presidida pelo príncipe Karim Aga Khan, 49.º Imam Hereditário e líder espiritual dos muçulmanos xiitas ismailis, que a fundou em 1967, a AKND, com sede mundial em Lisboa, é um projeto de desenvolvimento que também abrange o apoio a áreas da saúde, sociais e económicas, segundo a apresentação no sítio 'online' da organização.

O trabalho das agências da AKDN está concentrado principalmente em áreas carenciadas da Ásia Meridional e Central, África Oriental e Ocidental e Médio Oriente, mas também desenvolve programas nos setores da educação e da cultura na Europa e na América do Norte.

Em Portugal, a sua intervenção foi desde o apoio ao Plano Nacional de Leitura, à promoção de projetos de conservação de património, tendo realizado igualmente apoios mecenáticos, como a aquisição de peças de arte para museus nacionais.

A rede possui o Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC - Aga Khan Trust for Culture) que promove regularmente prémios para a arquitetura, no valor de um milhão de dólares (cerca de 900 mil euros), e para a música, no valor de 500 mil dólares (cerca de 457 mil euros).

A AKTC dá apoio à educação musical e artística, à formação de artesãos, ao restauro e conservação de património, assim como de cidades históricas, além de apoio mecenático em países e organizações parceiras.

Em 2024, contabilizava o apoio a cerca de 40 mil músicos e educadores musicais, e a formação de 4.550 artesãos em técnicas de construção e meios de subsistência tradicionais.

Em Portugal, em 2015, durante a campanha pública do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, de angariação de 600 mil euros para a aquisição do quadro "A Adoração dos Magos", do pintor português Domingos António Sequeira (1768-1837), a Fundação Aga Khan fez uma doação de 200 mil euros, a maior registada.

Quatro anos depois, o príncipe Aga Khan financiou o restauro de três pinturas de Bento Coelho da Silveira (1617-1708), artista régio de Pedro II: "Apresentação da Virgem no Templo", doada ao Museu Nacional Soares do Reis, no Porto, "Repouso no Regresso do Egipto" e "Virgem com o Menino e a Visão da Cruz", entregues ao MNAA.

As obras foram doadas através do Imamat Ismaili e da AKDN, entidades que estabeleceram um acordo, em 2015, com o Estado Português, para instalação da sua sede mundial em Lisboa.

Uma década antes, na área da conservação e restauro do património cultural, a Fundação Aga Khan foi um dos mecenas do projeto de recuperação da antiga Sé de Silves, no distrito de Faro, monumento nacional desde 1910.

Globalmente, o Programa Aga Khan das Cidades Históricas desenvolveu mais de 350 projetos de restauro e conservação em zonas históricas, no âmbito de iniciativas de reabilitação urbana para o desenvolvimento social, económico e cultural local.

Em 2019, a AKDN também assinou com o Governo português um protocolo de apoio ao Plano Nacional de Leitura para três anos, visando o apoio a 300 escolas do ensino infantil e pré-escolar através da compra de livros, no valor de 150 mil euros.

A organização escolheu Portugal para realizar, em 2019, a primeira cerimónia dos Prémios de Música -- lançados no ano anterior - que teve lugar em Lisboa, coorganizada pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Câmara Municipal de Lisboa.

Estes prémios "distinguem e apoiam a criatividade e o potencial de exceção, o empreendedorismo nas áreas das atuações musicais, criação, educação, preservação e revitalização em sociedades de todo o mundo, nas quais exista uma presença significativa de muçulmanos", indica um texto da organização.

Na altura foram distinguidos artistas provenientes do Azerbaijão, Uzbequistão, Mali, Irão, Palestina, Índia, Turquia, Paquistão, Líbano e Egito.

O programa para a música apoia o património musical em sociedades com uma significativa presença muçulmana, através da educação, criação e divulgação musical, investindo em centros e escolas para o desenvolvimento do currículo de música, nomeadamente no Afeganistão, Egito, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão e Tajiquistão.

Quanto ao Prémio Aga Khan para a Arquitetura, é concedido a cada três anos a projetos que estabeleçam novos padrões de excelência em arquitetura, práticas de planeamento, preservação histórica e arquitetura paisagística.

O galardão procura "identificar e encorajar conceitos de construção que consigam fazer face às necessidades e aspirações de sociedades pelo mundo onde exista uma presença significativa de muçulmanos".

Este prémio para a arquitetura completou 15 ciclos de atividade desde 1977, premiando 128 projetos, e tendo sido reunida documentação de mais de 9.000 projetos de construção em todo o mundo.

As agências da AKDN são organizações de desenvolvimento privadas, internacionais e assumem-se como não confessionais. E embora tenham o seu próprio mandato, trabalham em conjunto no quadro global da rede para reforçar as suas atividades mutuamente.

A organização trabalha em estreita colaboração com agentes de governos de dezenas de países e da sociedade civil, e os seus parceiros são habitualmente instituições "com os mesmos objetivos na conceção, implementação e financiamento de projetos inovadores de desenvolvimento", explica o sítio 'online' da AKDN.

Os parceiros institucionais -- como universidades, associações e instituições bancárias - contribuem financeira ou materialmente para os programas das agências individuais.

A AKND, na sua página na Internet, explica que as respetivas agências foram criadas inicialmente para dar resposta a necessidades da comunidade ismaili na Ásia Meridional e na África Oriental, "mas expandiram-se para abranger projetos em áreas onde há muitas religiões e etnias, e onde nem existe presença de ismailis".

"As comunidades ismailis em áreas pobres e remotas beneficiam dos projetos da AKDN, mas os programas, quando implementados em grande escala, normalmente beneficiam uma vasta fatia da população. Existem muitas áreas -- no Egito, na Índia, na República do Quirguistão e no Mali, por exemplo -- onde os principais programas favorecem populações nas quais a comunidade ismaili não está presente", conclui a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.