
Foi noite de estreia para ambos. O frente-a-frente entre Nuno Melo, pela AD - coligação PSD/CDS, e Isabel Mendes Lopes, pelo Livre, fechou a primeira semana de debates. Presentes, além da moderadora, estiveram ainda os líderes Luís Montenegro e Rui Tavares. Se o centrista optou pelo ataque, usando como trunfo que “sabe do que fala”, a líder parlamentar do Livre esclareceu a questão NATO.
Apresentando os EUA como um “aliado precioso”, Nuno Melo acusou o “Livre de ter um problema de princípio contra os EUA” e de “confundir um aliado de sempre com uma administração transitória”. Por isso deixou um conselho a Rui Tavares: “Deve despir o fatinho de esquerdista e vestir o fatinho de historiador”. Mas não ficou sem resposta.
“O Livre tem uma posição clara: não quer acabar com a NATO nem que Portugal saia. Mas, neste momento, temos um Presidente dos EUA que ameaçou sair [da NATO], não cumprir as condições em caso de ataque a um país membro”, por isso “a comunidade europeia tem de assumir esse papel, a Europa tem de ter capacidade de dissuação venha ela de que lado do mundo vier. (…) Europa unida é uma Europa livre”
Sobre o tão falado por estes dias reforço do investimento em defesa, Isabel Mendes Lopes defendeu que não se faz “só com armas” mas também com “capacidade tecnológica” como “temos em Portugal para criar sensores, drones", para que “o investimento não se faça apenas nos grandes países”.
Sem despir o fato de ministro, o centrista acusou o “Livre de estar totalmente a leste em matéria de defesa”, esquecendo-se, disse Nuno Melo, de que os EUA foram fundamentais para a vitória dos aliados na II Guerra, e que a NATO é forte pelos EUA. E acrescentou: "O Livre vive em Marte em matéria de economia, tem ideia de quanto custaria sair da NATO?”.
“Quem parece estar a viver em Marte é o Nuno Melo e isso é altamente preocupante. O Governo não tem noção do momemto que estamos a viver. Os EUA é que estão a ameaçar sair da NATO, a cobiçar a Gronelândia e as terras raras da Ucrânia”
“Se não tivesse feito cair o Governo…”
O tema da habitação, que tem sido presença em todos os debates, não faltou ao de estreia dos números dois de AD e Livre. Para Isabel Mendes Lopes, o “problema é gravíssimo” e, assinalou, Portugal é um dos paises onde o preço mais tem aumentado e é cada vez "mais dificil ter casa".
“Precisamos de um parque público de habitação e temos de avançar. Há pessoas que não têm casa para viver, há bebés retidos em maternidades por as mães não terem casas, voltámos a ter barracas, isto é indamissível num país no seculo XXI e o Governo não tem querido resolver, podia tê-lo feito mas optou por não fazer”
Porquê? Nuno Melo não hesitou na resposta, voltando a apontar o dedo ao Livre. Desta vez por ter, disse, dado a mão “ao resto da Esquerda e ao Chega” para derrubarem o Governo. Se assim não fosse, o Executivo “teria resolvido este e muitos outros problemas. Até parece que governámos quatro anos, mas não foram 11 meses”.
“Chegámos aqui porque um Governo estava a ter resultados e a oposição em conluio fizeram cair um Governo que era notável e elogiado no mundo inteiro”
Isabel Mendes Lopes afirmou, porém, que a “história que nos trouxe aqui" é outra. Citando o adversário da IL, Rui Rocha, declarou: “Entre a Spinumviva e o país, Luís Montenegro escolheu a Spinumviva. Trouxe o seu problema pessoal para o Governo, e os partidos foram claros a dizer que não tinham confiança".
Tirando do bolso as frases-chave que têm sido ditas e repetidas por Montenegro, Nuno Melo elencou que “o Governo aumentou salários, pensões - por duas vezes -, comparticipou medicamentos a 100%, valorizou 19 carreiras da Função Pública”, enquanto o Livre “votou contra o Orçamento do Estado”.
“Se dependesse do Livre ninguém teria os problemas resolvidos. Estávamos a governar bem”
Ora, isso é que “não estavam”, interrompeu Isabel Mende Lopes, acusando CDS e PSD de se dizerem “muito amigos das famílias mas não estiveram ao lado” delas quando o Parlamento votou o alargamento da licença parental e a proposta do Livre de uma licença de 100% (e não 65%) para pais de crianças com cancro ou deficiências.
Montenegro e Tavares, afinal não faltaram
Foi o primeiro frente-a-frente em que não estiveram os candidatos a primeiro-ministro dos respetivos partidos. Nuno Melo lamentou a ausência de Rui Tavares, ironizando que “não lhe cairiam os parentes à lama se debatesse com o líder do CDS”, um partido com “50 anos de história, o Livre tem 10”.
“O CDS integra três governos - Açores, Madeira, e República -, está na Europa, tem mais autarcas do que Livre, BE, Chega, e PAN todos juntos. Em democracia não há candidatos a primeiro-ministro mas a deputados”
Para a líder do Livre a questão que se coloca é "por que é que Luís Montenegro não está”. E a resposta foi dada pela própria. Porque mais uma vez “escolheu distorcer as regras a seu favor, escolher os partidos com quem não quis debater, sem critério ou justificação”. Acontece que, vincou Isabel Mendes Lopes:
“O CDS sozinho não foi eleito, o Livre foi. Agora [o CDS] vai à boleia do PSD e tem o seu grupo parlamentar. (…) Mas está explicado, Nuno Melo é candidato a deputado, eu sou deputada e líder do Livre, estamos em pé de igualdade, já que Montenegro fugiu”