A nova primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, escolhida a 14 deste mês pelo Presidente Volodymyr Zelensky para chefiar o Governo, personifica uma nova geração de responsáveis políticos que orientam a Ucrânia no meio dos tumultos provocados pela guerra.

A nomeação de Svyrydenko, de 39 anos e que foi uma 'figura-chave' nas difíceis negociações que levaram à assinatura de um acordo com Washington sobre minerais, representa uma remodelação significativa, depois de ter sido aprovada pelo parlamento ucraniano.

Até à indigitação pelo Presidente, Volodymyr Zelensky, no dia 14, Svyrydenko desempenhava as funções de ministra da Economia, uma pasta fragilizada na Ucrânia. Assumiu o cargo apenas alguns meses antes do início da invasão russa, em fevereiro de 2022.

Licenciada em Comércio e Economia, destacou-se este ano ao desempenhar um papel central nas negociações com os Estados Unidos sobre a exploração dos recursos naturais da Ucrânia.

As divergências profundas sobre esta matéria quase provocaram uma rutura entre Kiev e o principal aliado militar.

O acordo esteve no centro de uma disputa na Casa Branca entre Zelensky e o Presidente norte-americano, Donald Trump, em frente às câmaras de vários meios de comunicação e perante jornalistas estupefactos.

Pouco depois, Svyrydenko foi a Washington concluir o acordo, visto na Ucrânia como uma forma de apaziguar o Presidente norte-americano e garantir o apoio contínuo dos Estados Unidos.

" Ela foi a figura-chave e a única a conduzir essas negociações. Conseguiu evitar que falhassem ", considera Tymofiï Mylovanov, antigo ministro da Economia que trabalhou com a responsável.

Andrew Medichini via AP

Uma "profissional" com nervos de aço para evitar confrontos desnecessários

Mylovanov, atualmente diretor da Escola de Economia de Kiev, descreveu-a como uma pessoa "muito eficaz", capaz de persuadir sem criar confrontos desnecessários.

"É uma profissional. Mantém a calma", afirmou.

Com a nomeação confirmada pelo parlamento, Svyrydenko assumirá a liderança do Governo num momento crucial para o país, pois a Ucrânia está exausta após três anos de guerra e depende fortemente dos aliados ocidentais para sobreviver.

O cargo de primeiro-ministro não tem, regra geral, influência na estratégia militar, domínio reservado ao Presidente e à chefia das Forças Armadas. No entanto, Svyrydenko, tal como Zelensky, integra uma nova geração de responsáveis políticos ucranianos que conduzem o país durante a invasão russa, que contrasta fortemente com a elite envelhecida que governa a Rússia mediante padrões herdados da era soviética.

Andrii Nesterenko

A responsável ainda não tinha 30 anos quando a Rússia orquestrou um levantamento contra as autoridades ucranianas no leste do país, desencadeando um conflito em 2014. A região natal de Svyrydenko, Chernigiv, fronteira à Rússia e à Bielorrússia, foi brevemente ocupada pelas tropas russas no início da invasão, em 2022.

Em 2023, a então secretária norte-americana do Comércio Gina Raimondo afirmou que Svyrydenko era "emblemática da resiliência do povo ucraniano".

Discreta, mas confiante e ambiciosa

Nas raras vezes em que aparece publicamente, Svyrydenko mostra-se discreta, mas expressa-se com confiança.

A nova primeira-ministra rapidamente subiu os degraus da administração pública, após uma passagem pelo setor privado. Desempenhou várias funções a nível local na região de Chernigiv, antes de integrar a administração presidencial em 2020. Menos de um ano depois, foi nomeada vice-primeira-ministra e ministra da Economia.

Segundo os meios de comunicação ucranianos, Yulia Svyrydenko acalenta há muito ambições políticas. De acordo com o RBC-Ucrânia, um meio de comunicação especializado em economia, Zelensky terá travado anteriores tentativas da responsável de aceder ao cargo de primeira-ministra, considerando que tal função seria mais apropriada após o fim do conflito.

Henry Nicholls via AP

Numa entrevista recente, Svyrydenko explicou que o serviço público faz parte da sua vida desde a infância, já que ambos os pais trabalhavam nesse setor.

"Vi o quanto se dedicavam ao serviço da comunidade, como a terra natal e o desenvolvimento estavam no centro dos seus valores".