
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou hoje que o rearmamento da NATO não representa uma ameaça para o país, assegurando que Moscovo dispõe das "capacidades de defesa" necessárias para fazer frente à aliança transatlântica.
"Não consideramos qualquer rearmamento da NATO como uma ameaça à Federação da Rússia, porque somos autossuficientes em matéria de segurança", declarou Putin, durante uma mesa-redonda com representantes de agências de notícias internacionais, à margem do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo.
O chefe de Estado russo acrescentou que o país está "constantemente a melhorar as suas Forças Armadas e capacidades de defesa".
Num momento em que a NATO prepara uma nova cimeira, na próxima semana, em Haia (Países Baixos), e incentiva os membros a aumentarem o investimento em defesa, Putin considerou que um eventual reforço orçamental até 5% do PIB, por parte dos aliados, representaria "desafios específicos" para Moscovo, mas disse que esse esforço financeiro "não faz sentido" para os próprios países da aliança. "Responderemos a todas as ameaças que surjam. Disso não há dúvidas", assegurou.
Putin referiu-se à ofensiva lançada contra a Ucrânia em 2022 como parte de um confronto mais amplo com a NATO, que considera representar uma ameaça "existencial" junto às fronteiras russas.
No quadro de futuras negociações de paz, o líder russo manifestou interesse em discutir a arquitetura de segurança europeia, nomeadamente com o Presidente norte-americano, Donald Trump. Kiev procura, no entanto, garantias de segurança por parte da NATO como condição para um eventual acordo para pôr fim à guerra.
As conversações de paz entre Rússia e Ucrânia estão atualmente bloqueadas, com ambos os lados a manterem posições inconciliáveis. Moscovo rejeitou a proposta de cessar-fogo "incondicional" defendida por Kiev, enquanto o Governo ucraniano considerou como "ultimatos" as exigências russas.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a apelar a um encontro direto com Putin para discutir o fim do conflito, mas o Kremlin tem rejeitado tanto essa possibilidade como a proposta de cessar-fogo imediato.
Putin indicou agora estar aberto a uma reunião com Zelensky, mas apenas "na etapa final" das negociações. "Estou disposto a encontrá-lo, mas apenas se for a última etapa das conversações", afirmou o líder russo, voltando a pôr em causa a legitimidade de Zelensky, cujo mandato, segundo Moscovo, terminou em maio de 2024.
Devido à imposição da lei marcial e à continuação do conflito, a Ucrânia não realizou eleições presidenciais. "Estou disposto a reunir-me com qualquer pessoa, mesmo com Zelensky. Se o Estado ucraniano confia nele para negociar, que assim seja", afirmou Putin, relativizando a importância de quem representa Kiev nas conversações.
Para o Presidente russo, é essencial "encontrar uma solução que não só ponha fim ao conflito atual, mas que também crie as condições para evitar que situações semelhantes se repitam a longo prazo".
Dois ciclos de negociações entre russos e ucranianos tiveram lugar em Istambul, mas não resultaram em avanços concretos.
A Rússia continua a exigir a retirada das forças ucranianas de quatro regiões que afirma ter anexado – Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson – , o abandono da intenção da Ucrânia de aderir à NATO e restrições ao tamanho das suas Forças Armadas.
Putin afirmou ainda que as forças russas continuam a avançar "todos os dias" na frente de combate, enfrentando um exército ucraniano em inferioridade numérica e em dificuldades operacionais.
No terreno, as forças russas mantêm os ataques diários contra cidades e aldeias ucranianas. Na quarta-feira, uma série de bombardeamentos atingiu Kiev, provocando pelo menos 28 mortos, segundo as autoridades ucranianas, naquele que foi um dos ataques mais mortíferos contra a capital desde 2022