
A agitação começou por volta das 09:00 (menos duas horas em Lisboa) de segunda-feira, quando populares protestavam, sobretudo, contra o alto custo de vida, explicou à Lusa um residente a partir do distrito de Chókwè, na província de Gaza.
De acordo com a fonte, os populares incendiaram a guarita das instalações do Fundo de Investimento para o Abastecimento de Água (Fipag), instituição que gere os sistemas de abastecimento de água, vandalizaram ainda os Serviços Distritais da Educação, uma padaria e colocaram barricadas ao longo da Estrada Nacional número 1 (EN1), a principal do país.
Um outro residente daquele distrito afirmou à Lusa que os tumultos continuaram na terça-feira, devido a vandalização, por desconhecidos, de viaturas de um suposto apoiante do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, o líder da contestação aos resultados eleitorais que o país enfrenta desde outubro.
O episódio levou as autoridades a efetuarem disparos para tentar a desmobilização, indicou a fonte, acrescentando que, por volta das 10:00 de terça-feira, os manifestantes em Chókwé queimaram a sede distrital da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) e voltaram para vandalizar e queimar os escritórios do Fipag.
"Vandalizaram tudo, estragaram tudo e queimaram todos os papéis que estavam nos escritórios", disse.
O secretário de Mobilização das Organizações Sociais, Comunicação e Imagem da Frelimo em Gaza, José Mabuta, confirmou hoje à Lusa a destruição parcial da sede distrital do partido.
"Na terça-feira, pela manhã, um grupo de pessoas dirigiu-se à sede do partido onde arremessaram pedras, partiram vidros, arrombaram a porta e queimaram alguns papeis que encontraram dentro do recinto. Tentaram atear fogo à sede mas não conseguiram", descreveu José Mabuta.
Já em Inhambane, outra província do sul de Moçambique, o secretário de mobilização da Frelimo, Essau Maela, disse que as manifestações começaram na terça-feira, com bloqueios de algumas vias e a vandalização e saque de algumas lojas, em protestos contra o alto custo de vida.
"Os manifestantes estão, atualmente, na vila de Homoine", avançou Essau Maela.
A Lusa tentou, sem sucesso, contactar a polícia moçambicana.
O executivo moçambicano considerou, na terça-feira, que as medidas governamentais que está a implementar para a redução do custo de vida no país serão inúteis se as manifestações e a destruição de infraestruturas continuar.
"Enquanto as manifestações continuarem, mesmo com a redução de custo de vida, a coisas vão ficar mais difíceis ainda", declarou Inocêncio Impissa, porta-voz do Conselho de Ministros, após uma sessão do órgão em Maputo.
Desde outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante confrontos entre a polícia e os manifestantes, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer de forma independente em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de de outros problemas sociais.
LYCE (EAC) // MLL
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