Nasceu na Venezuela, naturalizou-se nos EUA e chegou a cumprir serviço militar nos Marines, no Iraque. Em junho de 2016 deslocou-se a Madrid, até ao escritório do advogado Víctor Joel Salas - que acreditava ter um caso com a sua mulher - e matou três pessoas que lá se encontravam.

Dahud Hanid Ortiz, conhecido como "o triplo assassino de Usera", estava a cumprir pena de prisão na Venezuela quando, esta sexta-feira, foi repatriado por decisão da administração de Donald Trump sem qualquer medida de segurança.

Apesar de ter defendido sempre a sua implacável política de imigração, partindo do princípio de que outros países enviam os piores criminosos para cometer crimes nos EUA, a verdade é que foi agora por decisão sua que este criminoso regressou a solo norte-americano no meio de um grupo de presos políticos onde, segundo ativistas pró-democracia na Venezuela, estavam também turistas.

Nas redes sociais, as contas oficiais do Governo divulgaram imagens do grupo a entrar no avião, dentro da aeronave e a chegar à Base Conjunta de San António Lackland, no Texas. Ortiz surge sentado na segunda fila, de sorriso no rosto, com um boné azul e uma pequena bandeira dos EUA na mão.

Mas a história não se fica por aqui. O paradeiro de Ortiz, de 54 anos, que na sexta-feira passada acenava para a câmera ao pousar com o restante de presos libertados num aeroporto militar nos arredores da cidade de San Antonio, Texas, é desconhecido.

Já na terça-feira, o Departamento de Estado disse em conferência de imprensa realizada pela porta-voz do secretário Marco Rubio, Tammy Bruce, que já " não havia americanos detidos injustamente na Venezuela", manifestando a vontade de que "continue assim". Bruce não especificou se Ortiz foi considerada preso injustamente ou se estava a referir-se apenas aos outros nove indivíduos.

Mais tarde, um alto funcionário da Embaixada dos EUA na Colômbia, John McNamara, disse em entrevista a um jornalista venezuelano que “todos os cidadãos americanos detidos na Venezuela agora estão livres, livres na sua própria terra, com suas próprias famílias”.

EUA defendem repatriação

Esta quarta-feira, um porta-voz do Departamento de Estado indicou ao EL PAÍS que com esta troca, "os EUA tiveram a oportunidade de garantir a libertação de todos os americanos detidos na Venezuela, muitos dos quais relataram ter sido submetidos a tortura e outras condições severas".

A resposta ao jornal espanhol acrescentou ainda que, por "razões de privacidade", não entraria em detalhes sobre nenhum caso específico.

A troca permitiu ainda retorno de 252 prisioneiros venezuelanos deportados por Washington para El Salvador.

De acordo com o El País, ainda não está esclarecido se Ortiz se infiltrou no grupo de dez homens americanos libertados pelo regime chavista de Nicolás Maduro e apresentados à opinião pública do país como "prisioneiros políticos" que foram "injustamente presos".

O crime e a fuga para a Venezuela

Em 2016, quando vivia na Alemanha, "o triplo assassino de Usera" rumou à capital espanhola com a suspeita de que o advogado Víctor Joel Salas mantinha um caso com a sua mulher, com quem casou na Alemanha.

Ortiz e Irina Trippel já viviam separados em abril de 2016, quando a mulher conheceu Salas, de 36 anos, dono de um escritório de advocacia na capital espanhola. Ao descobrir, o ex-fuzileiro naval ficou furioso, concluíram os investigadores do caso em Espanha. Motivado pelos ciúmes, Ortizfoi até ao escritório do indivíduo, no bairro de Usera, em Madrid, e acabou por matar duas trabalhadoras cubanas e um equatoriano. Depois? A fuga.

Ortiz tinha família em Puerto Ordaz, uma cidade petrolífera na Bacia do Orinoco, na Venezuela. Segundo o El País, que cita fontes de investigação na Venezuela, trabalhou no comércio de componentes elétricos até ser finalmente preso em outubro de 2018.

Em 2023 foi condenado a 30 anos de prisão na Venezuela e Espanha, segundo documentos judiciais e a cobertura mediática espanhola, chegou até a tentar extraditá-lo, mas sem sucesso. A Constituição venezuela proíbe a extradição de cidadãos venezuelanos (como Ortiz também é).