![Organização inter-governamental pede diálogo entre religiões para combater polarização](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
"Vemos, pelo que se passa em tantas partes do mundo e inclusivamente também em Portugal, que a promoção do diálogo é fundamental" e a "alternativa ao diálogo é a guerra, a luta, a violência, o conflito ou o confronto e é isso que nós devemos procurar evitar", afirmou o embaixador, em entrevista à Lusa.
Fundado há 12 anos, na sequência de um encontro do rei da Arábia Saudita com o papa Bento XVI, a estrutura intergovernamental KAICIID resultou de um acordo entre Estados para uma "organização Internacional que pudesse promover o diálogo entre religiões e entre culturas".
Hoje, o discurso religioso e cultural é justificado para a polarização política, discursos extremistas, ataques a imigrantes e atentados de várias ordem, uma questão de António de Almeida-Ribeiro considera resultar de interpretações erradas de elementos radicais.
"Quem promove essa lógica da divisão são as franjas extremistas, as interpretações radicais e fundamentalistas das religiões, porque, na minha perspetiva, todas as religiões deverão ter como dois grandes objetivos a paz e a promoção da dignidade humana", afirmou Almeida-Ribeiro.
Por isso, "tudo o que sejam interpretações que vão contra estas duas ideias base parecem-me interpretações abusivas da religião, contra as quais nós lutamos", afirmou.
Segundo o embaixador, o KAICIID tem feito "apelos veementes contra o discurso de ódio, contra a exclusão, contra a radicalização, porque isso é justamente a antítese do que deve ser a religião".
"Não podemos aceitar e ver com bons olhos que esta radicalização se agrave, e tem vindo a agravar-se", como acontece no discurso anti-imigrantes.
O trabalho do KAICIID é por isso "promover uma ligação entre decisores políticos, comunidades religiosas e sociedade civil nas comunidades locais", de modo que "imigração não seja vista como um risco ou perigo, mas como um fator adicional de integração, de diálogo e convivência pacífica entre pessoas que professam religiões e têm culturas e origens diversas".
Em Portugal, o discurso anti-imigrantes tem aumentado também porque houve "alguns excessos nos últimos anos" que se está a tentar corrigir, disse, referindo-se à entrada em massa de imigrantes.
"As pessoas são bem-vindas em Portugal desde que naturalmente tenham condições para se integrarem e terem um trabalho", afirmou, salientando que Portugal necessita de imigrantes.
O discurso contra o outro é algo que preocupa o KAICIID, num contexto de governos populistas.
"Há muitos focos de tensão que estão a agravar-se em vez de estarem a reduzir-se", admitiu.
Inicialmente baseado em Viena, o KAICIID transferiu a sua sede para Lisboa, uma decisão que se deve, segundo António de Almeida-Ribeiro, à tradição portuguesa de "acolher pessoas oriundas de várias regiões do mundo e de várias culturas", com uma história "muito antiga de inclusão, acolhimento e hospitalidade".
O KAICIID, que conta com a Espanha, Arábia Saudita, Áustria e a Santa Sé como fundadores, tem programas de bolseiros em vários países, desenvolve áreas de formação e eventos culturais em África, Médio Oriente, Europa e América Latina.
Em Portugal, o KAICIID promoveu um festival de cinema sobre migrações (Global Migration Film Festival), focando-se em histórias de migrantes.
"A arte tem uma linguagem universal e é entendida por todo o mundo, por todas as pessoas, todas as regiões, por raças, religiões e continentes, justificou Almeida-Ribeiro.
PJA // FPA
Lusa/Fim