
A ONU pediu hoje que a invasão russa em grande escala na Ucrânia seja interrompida "com urgência", uma vez que junho foi o mês mais mortífero para os civis ucranianos desde maio de 2022.
O apelo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos surge um dia depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter imposto à Rússia um prazo de 50 dias para pôr fim à guerra na Ucrânia sob pena de enfrentar sanções severas, e anunciou um rearmamento massivo de Kiev através da NATO.
"O ataque armado em grande escala da Federação Russa contra a Ucrânia deve ser interrompido com urgência, e o trabalho em prol de uma paz duradoura, consistente com o direito internacional, deve ser intensificado", defendeu a porta-voz Alto Comissariado da ONU, Liz Throssell, durante uma conferência de imprensa realizada hoje em Genebra, na Suíça.
Deve haver "uma paz que garanta" que os autores de violações de direitos humanos e do direito internacional humanitário "sejam responsabilizados", acrescentou.
Em Bruxelas, a responsável pela diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, considerou que o prazo de 50 dias dado pelo Presidente norte-americano à Rússia é um período "muito longo", já que já "civis inocentes a morrer todos os dias".
Este mês "não trouxe tréguas aos civis ucranianos, depois de junho ter registado, segundo a nossa monitorização da Ucrânia, o maior número mensal de mortes e ferimentos de civis em três anos --- desde maio de 2022 ---, com 232 mortos e 1.343 feridos", sublinhou Liz Throssell.
"De acordo com as nossas informações mais recentes, desde o início do mês, pelo menos 139 civis foram mortos e 791 feridos na Ucrânia durante ondas intensas e sucessivas de ataques com mísseis e drones lançados pela Federação Russa", alertou.
A porta-voz realçou ainda que o "impacto físico e psicológico devastador" dos ataques não é apenas uma questão de números, uma vez que "as pessoas precisam de passar horas abrigadas, incluindo em caves, corredores e abrigos disponíveis, como estações de metro".
Segundo o alto-comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, quaisquer negociações devem focar-se em "medidas imediatas": pôr fim aos ataques a civis, proteger os direitos das pessoas em territórios ocupados, devolver crianças transferidas ou deportadas à força, estabelecer corredores humanitários e pôr fim à tortura e aos maus-tratos de prisioneiros de guerra e de outros detidos.
Türk pediu também a Moscovo e Kiev que realizem uma troca abrangente de prisioneiros de guerra.
Desde o início de junho, a ONU entrevistou quase 140 prisioneiros de guerra ucranianos recentemente libertados, e "quase todos relataram ter sido torturados ou maltratados", adiantou a porta-voz, acrescentando que isso confirma "tendências já estabelecidas de tortura generalizada e sistemática".
A ONU está também a entrevistar prisioneiros de guerra russos na Ucrânia, "o que permitiu observar a utilização de instalações de detenção não oficiais, bem como [o uso de] tortura e maus-tratos desde as primeiras fases do cativeiro", disse.
"As autoridades ucranianas abriram investigações sobre várias destas alegações e pedimos-lhes que garantam que estas investigações progridem rapidamente, de acordo com as normas internacionais", concluiu.