O Presidente norte-americano, Donald Trump, quebrou na quarta-feira o 'status quo' ao iniciar conversações de paz sobre a Ucrânia diretamente com o homólogo russo, Vladimir Putin.

Kiev exige uma "paz justa" e garantias de segurança por parte dos europeus e dos norte-americanos, nomeadamente de forças de manutenção da paz.

Moscovo quer os territórios que ocupa, mas também quer atacar as "raízes" do conflito, nomeadamente a presença da NATO nas suas fronteiras.

Quais são as principais diferenças entre as posições russa e ucraniana? Segundo a agência francesa AFP:

Territórios

Para a Ucrânia, o objetivo é regressar às suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, incluindo as reconhecidas pela Rússia, a partir de 1991, quando a União Soviética, de que fazia parte, entrou em colapso.

Em termos práticos, isto significaria que Moscovo renunciaria a cinco regiões anexadas: a Crimeia, desde 2014, e as regiões reivindicadas por Putin desde 2022 e ocupadas em diferentes graus (Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson).

Kiev admite a necessidade de negociações sobre este ponto, mas o objetivo continua a ser a integridade territorial do país e a sua plena soberania.

Esta semana, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falou de uma troca de território, a fim de rentabilizar as várias centenas de quilómetros quadrados ocupados desde agosto de 2024 pelas tropas ucranianas na região russa de Kursk.

Moscovo assume uma posição maximalista: quer controlar a totalidade das cinco regiões em causa e não apenas as áreas atualmente ocupadas.

Quanto a uma troca envolvendo a região de Kursk, o Kremlin (presidência russa) recusou categoricamente e prometeu erradicar as forças ucranianas nessa região fronteiriça.

Resta a região ucraniana de Kharkiv, parcialmente ocupada pela Rússia, mas cuja anexação ainda não foi reivindicada.

Os Estados Unidos consideram irrealista um regresso às fronteiras anteriores a 2014, excluindo assim a devolução da Crimeia, e parecem imaginar um acordo baseado nas atuais linhas da frente.

Tropas de manutenção da paz

A Ucrânia considera que a paz é impossível sem o envio de forças estrangeiras, nas quais confia. Caso contrário, diz que nada impedirá a Rússia de voltar a invadi-la.

Em 22 de janeiro, Zelensky estimou que pelo menos 200.000 soldados de países da NATO deveriam ser enviados para garantir a segurança da Ucrânia.

Zelensky também quer um compromisso norte-americano, porque sem o peso militar e diplomático dos Estados Unidos não pode haver segurança para a Ucrânia.

Na quarta-feira, no entanto, Washington excluiu qualquer envio de tropas norte-americanas.

Do lado russo, a oposição é de princípio: as forças dos países da NATO, uma organização considerada como uma ameaça existencial para a Rússia, não vão entrar em território ucraniano.

Desde a invasão de 2022, Putin tem insistido na vontade de desmilitarizar o país vizinho, acusando as autoridades ucranianas de serem nazis.

NATO

Para a Ucrânia, a entrada na NATO, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, é a pedra angular da segurança do país.

Se Kiev quiser viver sem medo, a adesão à NATO é necessária para que a Ucrânia seja abrangido pelo artigo 5.º do tratado, que prevê a assistência mútua entre Estados em caso de agressão.

Até agora, os Estados-membros da NATO têm apoiado a ambição de Kiev e uma adesão num futuro mais ou menos longínquo, mas Trump pôs uma pedra no sapato na quarta-feira, considerando a adesão irrealista.

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Moscovo considera que a integração da Ucrânia na NATO, ou de qualquer outro país que se encontre na zona de influência russa, é uma linha vermelha.

O Kremlin deu a entender que está pronto para um conflito em grande escala, ou mesmo para a utilização de armas nucleares.

Em dezembro de 2021, quando o mundo ocidental tentava mobilizar-se para impedir a invasão da Ucrânia, Moscovo enviou aos Estados Unidos uma série de exigências, descritas como "garantias de segurança" para a Rússia.

Um ponto central foi o desejo de congelar a geografia da NATO em 1997, com o acordo NATO-Rússia e antes da vaga de alargamento da aliança a Leste, impedindo que os aliados coloquem soldados e equipamento nos países que entretanto aderiram, exigindo a retirada das tropas já estacionadas nesses países.

A lista inclui os Estados Bálticos e a Polónia, que fazem fronteira com a Rússia, e a Roménia e a Bulgária, na fronteira com o Mar Negro.

- Com Lusa