
A Rússia e a Ucrânia ainda não chegaram a acordo sobre uma data para a terceira ronda de negociações, mais de um mês depois da última ronda, em Istambul, reconheceu hoje o Kremlin.
"Como o Presidente [russo, Vladimir Putin] disse na semana passada, estamos à espera de uma proposta do lado ucraniano sobre uma possível data. Quando chegarmos a um acordo, e esperamos que isso aconteça, informaremos imediatamente", disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov, na conferência de imprensa diária.
As duas rondas anteriores ocorreram em meados de maio e início de junho e resultaram apenas em acordos humanitários para a troca de prisioneiros de guerra e corpos dos mortos em combate.
A Rússia -- que está envolvida numa nova ofensiva no Donbass e no norte da Ucrânia (Sumi e Kharkiv) - não parece ter pressa em convocar uma nova ronda de negociações.
Putin afirmou recentemente que a Rússia está disposta a participar numa terceira ronda, mas admitiu de imediato que "os memorandos russo e ucraniano são diametralmente opostos".
O ponto de discórdia continua a ser que a Ucrânia está a propor o cessar das hostilidades antes de abordar as questões políticas mais delicadas, enquanto Moscovo se recusa a ouvir falar de uma trégua, suspeitando que esta servirá apenas como uma estratégia para alívio da pressão sobre as tropas inimigas.
Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, disse que a terceira ronda está a ser acordada, mas sem detalhes.
No entanto, numa entrevista à imprensa húngara, Lavrov voltou a colocar obstáculos no caminho das negociações ao propor condições maximalistas que são inaceitáveis para o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Lavrov insistiu que Moscovo defende uma solução política e diplomática, mas alertou que, sem eliminar as raízes do conflito, nunca haverá paz duradoura entre os dois países.
O ministro russo pediu a eliminação das ameaças representadas pela expansão da NATO e exigiu o reconhecimento internacional das anexações da península ucraniana da Crimeia e das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia pela Rússia e insistiu ainda na desmilitarização e "desnazificação" da Ucrânia, bem como no levantamento das sanções contra a Rússia e na devolução dos bens russos congelados no Ocidente.
Lavrov considerou ainda crucial que a Ucrânia regresse aos princípios estabelecidos quando declarou a independência em 1991: a neutralidade, que exclui o envio de tropas estrangeiras, bem como a entrada em blocos militares como a NATO.
Entretanto, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem criticado o fornecimento excessivo de armas à Ucrânia autorizado pelo antecessor Joe Biden, disse que Washington vai enviar novos carregamentos de armas para Kiev.
"Temos de enviar mais armas. Temos de o fazer para que sejam capazes de se defender. Estão a ser atacados com demasiada força", disse Trump aos jornalistas durante um jantar com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na segunda-feira, na Casa Branca.
"Não estou nada satisfeito com o Presidente Putin", confessou Trump, que já tinha expressado opiniões semelhantes na semana passada, após uma conversa telefónica com o líder russo, antes de uma outra chamada telefónica para Kiev.
Zelensky anunciou - depois do que chamou a melhor conversa telefónica que teve com Trump desde janeiro - acordos de armas para defesa aérea com os EUA e com a Dinamarca para a produção em massa de drones.